R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

A Zona Morta

por Stephen King

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 16.09.2001

republicada em 17.08.2003

Li recentemente este livro do King, A Zona Morta (The dead zone), em edição da Livros do Brasil integrada na colecção Vida e Aventura com o número 34, sem uma data de edição. Pelo aspecto do livro, deve datar do fim dos anos 70 ou início dos 80, se bem que tenha sido comprado já em 2001 por... 500 paus. A tradução é de Virgínia Motta.
E finalmente, ao terceiro livro, percebi o porquê do King ser quem é. Mas tudo começa mal, suficientemente mal para tirar o apetite. Onde? Na orelha.
A orelha do livro reza assim:
"Uma obra que contém, no seu seio, o espírito da alta tragédia grega, penetrando o reino das mais intensas emoções macabras que também podem inserir-se na vida quotidiana.
É a história de um garoto que sofre um acidente, ao patinar no gelo. Vivo, penetra num outro mundo: o da Zona Morta que lhe infere estranhos poderes: o de desvendar o futuro e, portanto, antever o terrível destino de alguns dos seus semelhantes."
Não sei quem escreveu este chorrilho de disparates, mas coitado do King, que não os merecia!
O livro conta a história de John Smith, ou Johnny, desde uma infância normal, ou quase, até a uma idade adulta assombrada por visões do futuro das pessoas em quem toca, e definitivamente marcada por um acidente de automóvel que o deixou em coma durante anos. A Zona Morta é uma zona do seu cérebro que nunca recuperou do coma, uma zona que morreu, levando consigo para a inexistência os conceitos e as palavras que aí estavam armazenados. Mas de onde, se calhar, nasceu a capacidade de ver o futuro.
Johnny é um homem acossado pelo poder que tem, e o seu único desejo é fugir dele, remetendo-se à banalidade de uma vida normal como professor de inglês numa qualquer terreola da Nova Inglaterra. Mas não consegue, porque de tempos a tempos um toque fortuito em alguém o leva a ver fragmentos do futuro dessa pessoa, e não resiste à tentação de tentar corrigir esse futuro.
E tudo piora quando aperta a mão ao outro personagem fulcral na história: Greg Stillson. Stillson é um criminoso com carisma e um jeito para lidar com o povo que o leva a enveredar por uma carreira política, muito à semelhança de um dos personagens mais célebres do século passado: Adolf Hitler. E Johnny Smith lê o futuro de Stillson naquele aperto de mão.
Por esta pequena sinopse já dá para perceber que o livro é excelente. O King transporta o leitor através da história com mão de mestre, levando o tempo certo em cada momento, sem aquele mastigar que torna desagradável a leitura de livros mais recentes como o Saco de Ossos, por exemplo.
O problema, claro, e como não podia deixar de ser num livro desta editora, é a tradução. Apesar de bastante melhor do que é hábito na Argonauta (mostrando, talvez, uma hierarquia em que a FC ocupa o ponto mais baixo), a tradução da Virgínia Motta é, mesmo assim, fraquinha devido fundamentalmente à pudicícia que empregou ao traduzir certas partes que de certeza foram escritas em vernáculo no original, a ver-se com demasiada frequência o texto original por baixo da "roupa" portuguesa e a um conjunto de notas de rodapé que apesar de não serem muito abundantes raramente têm relevância, chegando mesmo a ser ridículas (a mais caricata é a nota que é aposta a "tinha sido le manger d'homme". Consta essa nota, por extenso, de "Le manger d'homme (Sic)". Cruzes!).
Apesar de tudo, o livro é muito recomendável, e se lhe fosse a dar estrelinhas à crítico de cinema, dava-lhe quatro sem hesitar.

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A Zona Morta

por Stephen King

Livros do Brasil

Colecção Vida e Aventura nº 34

tradução de Virgínia Motta

s/data

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