R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Como vão as coisas na FC?

entrevista de Jorge Candeias a Gardner Dozois

publicada em 04.11.2001

republicado em 08.06.2003

O nome de Gardner Dozois é sem dúvida um dos mais bem conhecidos no meio. Escritor de sucesso, ganhador de 2 prémios Nebula, Dozois tem ganho mais nome desde que em 1988 se tornou editor da revista Isaac Asimov's Magazine e começou a coleccionar Hugos de melhor editor. Graças não só à sua actividade na Asimov's, mas também à faceta de organizador de antologias com especial destaque para as Year's Best, que já vão na 18ª edição, Dozois só deixou fugir um Hugo na década de 90, voltando a vencer o de 2000, e este ano lá arrancou de novo a estatueta. A 13ª estatueta.
Fiz-lhe uma pequena entrevista por email, em Agosto, para a minha coluna de FC no Região Sul. Agora a mesma entrevista inaugura a secção de entrevistas do E-nigma:

Jorge Candeias - O que pensa do estado actual das coisas no género, visto que se ouve dizer com frequência que a FC está em muito mau estado, ou mesmo que já morreu?
Gardner Dozois - Discuti com alguma profundidade este assunto nos Sumários para várias das últimas antologias Best of the Year que editei. Basicamente, o que penso é que o género vai bem, apesar de todos os profetas da desgraça. Saem actualmente [nos Estados Unidos] muito mais livros de ficção científica do que, por exemplo, em 1975; vendem-se muito mais exemplares, e há um número muito maior de escritores de FC a fazer mais dinheiro que em 1975, e em alguns casos mais dinheiro do que alguém julgaria possível para um escritor de género. Os livros de FC estão hoje muito mais disponíveis do que em 1975. A maioria das pequenas vilas tem hoje uma Borders ou uma Barnes & Noble por perto, com uma grande secção dedicada à FC e há livros de FC em grande número, novos e usados, à espera de ser encomendados através da internet. Pelo contrário, quando eu era rapaz a cidadezinha onde vivia não tinha nenhuma livraria - se eu quisesse uma, tinha de apanhar o comboio e fazer trinta quilómetros até à cidade mais próxima, e mesmo aí não existia nenhuma livraria com uma secção dedicada à FC, muito menos livrarias especializadas em FC. Algumas livrarias punham à venda um ou dois títulos de FC por mês; noutras nunca havia nada.
Também artisticamente não se pode dizer que o género vá mal - saem todos os anos muitos romances excelentes e histórias de elevada qualidade literária, num amplo espectro de diferentes tipos de material. Na verdade sai mais material de qualidade todos os anos do que aquele que os leitores irão ter tempo para ler. E continuam a chegar todos os anos ao género bons novos escritores - ao mesmo tempo que uma grande quantidade de escritores mais velhos continuam a publicar, incluindo até gigantes da Golden Age que começaram a estabelecer as suas reputações nos anos 20 e 30.
Resumindo, seja qual for a perspectiva por onde a olhe, parece-me que a ficção científica está bem e recomenda-se.
JC - O que pensa da FC europeia e qual é a razão, na sua opinião, porque é tão difícil a escritores não anglófonos penetrar no mercado norte-americano, que continua a ser o mais importante na ficção científica mundial?
GD - Seria presunçoso da minha parte dar opiniões sobre o estado geral da FC europeia, visto que sou incapaz de ler a maior parte dela. Parece no entanto que vários países como a França, a Alemanha, a Rússia, a Escandinávia e muitos dos países da Europa de Leste têm mercados de FC florescentes.
Quanto ao porquê de ser difícil para escritores não anglófonos penetrar nos mercados principais de género nos EUA, a resposta está na fraca qualidade da maioria das traduções. É raro encontrar uma história traduzida que tenha resultado em algo mais que inglês tosco e macarrónico - e como na Asimov's, por exemplo, fazemos questão de usar apenas as histórias mais bem escritas, com a melhor prosa, uma história escrita de forma tosca não será incluída na revista seja qual for o seu conteúdo. Não sei bem qual poderá ser a solução para este problema, aparte melhorar as traduções.
JC - A ficção científica portuguesa encontra-se num estado lastimável, com a sua ausência de publicações periódicas e raridade de edições de livros de autores nacionais. Que conselho nos daria sobre a melhor maneira de alterar este estado de coisas?
GD - Sinceramente não sei que conselho vos possa dar, a não ser que a viagem mais longa começa com um único passo. Alguém que seja ao mesmo tempo conhecedor e trabalhador deverá conseguir guindar-se a uma posição de autoridade na indústria editorial e começar a desenvolver uma linha de ficção científica de primeira qualidade... ou então iniciar uma revista ou série de antologias e começar a publicar bons trabalhos de escritores locais.

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Gardner Dozois edita:

The Year's Best Science Fiction, nº 16

editado por Gardner Dozois

St Martin's Griffin (EUA)

1999

(ler crítica de Jorge Candeias)

The Year's Best Science Fiction, nº 17

editado por Gardner Dozois

St Martin's Griffin (EUA)

2000

(ler crítica de Jorge Candeias)

The Year's Best Science Fiction, nº 18

editado por Gardner Dozois

St Martin's Griffin (EUA)

2001

(ler crítica de Jorge Candeias)

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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