The Year's Best Science Fiction, nº 18
editado por Gardner Dozois
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 22.07.2003
Quem pega neste livro obtém o quê? Quilos de excelente FC, antecedidos de algumas dezenas de gramas da habitual e muito interessante súmula do ano editorial, escrita pelo Gardner Dozois.
Na verdade, estas mega-antologias (cerca de 600 páginas cada uma) são imprescindíveis para todos os que querem estar a par das novas tendências da FC anglo-saxónica, especialmente para aqueles que estão fartos dos incompetentes sistemas de assinatura das principais revistas de FC, que entregam os exemplares tardíssimo e a muito más horas, e não vivem em lugares onde estas possam ser compradas avulso, ou seja, não vivem nas grandes cidades nem nos respectivos arredores.
Esta 18ª edição contém 23 histórias de 23 autores (Charles Stross tem duas histórias no volume, Antibodies e A Colder War, mas há uma colaboração: Obsidian Harvest, de Rick Cook e Ernest Hogan). Histórias que vão das duas páginas de The Great Goodbye, de Robert Charles Wilson, às 54 de The Suspect Genome, de Peter F. Hamilton (por sinal, e de longe, a pior história do volume). Autores que vão da veterania de Ursula K. LeGuin (presente com The Birthday of the World) a vários dos autores surgidos nos anos 90.
Quase todas histórias excelentes. Talvez num patamar um pouco abaixo do atingido pela antologia do ano anterior, no entanto. Talvez com um número superior de histórias bizarras, de uma espécie de FC mais aproximada à fantasia (ou de fantasia, pura e simples). Talvez com menos pontos altos.
Mas quando os pontos são altos, são-no muito. Destaco em especial Savior, de Nancy Kress, uma terrível novela sobre os ciclos humanos de construção e destruição, The Cure for Everything, um conto de Severna Park sobre o que aconteceria se alguém descobrisse a cura de todas as doenças, On the Orion Line, uma pequena space-opera de Stephen Baxter na qual um grupo de homens em pânico combate uma raça alienígena capaz de manipular as mais íntimas leis do espaço-tempo, Patient Zero, uma história terrível de Tananarive Due acerca de uma criança que se vai apercebendo aos poucos de que é vector de uma doença incurável e assassina.
E destaco muito em especial aquela que, na minha opinião, é a melhor história do livro: Tendeléo's Story, de Ian McDonald. Trata-se de uma novela sobre a vida de Tendeléo, uma africana que vê o mundo em que vive, pobre mas seu, destruído pela invasão de uma praga nanotecnológica vinda do espaço, que alastra como um cancro sobre a superfície terrestre, em especial em regiões do Terceiro Mundo. Um texto magnífico, daqueles que ficam na memória muito tempo depois do fim da leitura, e em que cada recordação é um reavivar do prazer. Um daqueles textos que valem um livro, mesmo que nele não haja mais nada de interesse.
E neste caso há. Muitas coisas. Se fosse eu o seleccionador, teria retirado apenas a chatíssima novela de Peter F. Hamilton, que destoa por completo do resto do volume, e também um outro texto que destoa, embora por outros motivos: Milo and Sylvie, de Eliot Fintushel, um conto que pouco ou nada deve à ficção científica, andando em vez disso por territórios do absurdo ou de um fantástico quase latino-americano. Ou seja, um conto que destoa não por deficiências literárias, mas sim pela diferença na abordagem que é feita ao acto de contar a história.
Mas mesmo com estes dois pequenos grãos na engrenagem, esta antologia é excelente. Cinco estrelas.
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