The Year's Best Science Fiction, nº 17
editado por Gardner Dozois
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 13.01.2002
publicada em 05.08.2003
Eis um livro que já está sentado na minha secretária há que tempos, à espera de me ver ganhar coragem para pegar nele e começar a contar-vos o que achei. Quase todos os dias olho para ele, pensando "é hoje", mas a enormidade da tarefa faz-me rapidamente adiar para outra altura.
Mas o "é hoje" que é mesmo hoje tinha de chegar algum dia.
Pois bem: é hoje.
Acho que a melhor forma de descrever este livro é "quilos de excelente FC". É que são mesmo quilos! Para quem não conhece, imaginem um livro significativamente mais alto e mais largo que uma folha A5, e com a "ninharia" de 625 páginas. Grossas. Imaginaram? Agora encham-no com parte significativa da melhor FC curta de língua inglesa que se publicou em 1999, quer em revistas, quer em colectâneas e antologias. Nada menos que 27 contos, noveletas e novelas, de nomes que vão desde os consagradíssimos Pohl ou Silverberg a alguns dos maiores nomes dos anos 90 (Baxter, Swanwick, Egan, etc.), entre muitos outros.
Não há aqui má ficção. Há, no entanto, e como não poderia deixar de ser num livro com estas características, histórias que se destacam e perduram na memória mais que as outras, no que é necessariamente uma experiência subjectiva. No meu caso, não consigo esquecer-me de The Wedding Album, de David Marusek, uma história em que as personagens são simulações de um casal não propriamente feliz, assim uma espécie de fotografias animadas em três dimensões. Magnífico!
Outra história que me caiu no goto foi The Dragon of Pripyat, de Karl Schroeder, onde se conta, duma forma em que ainda se vêem bem vivos os ecos do cyberpunk, uma luta pela posse do sarcófago radioactivo da central nuclear abandonada de Chernobyl. Hatching the Phoenix, de Frederik Pohl, é outra história extraordinariamente bem contada, embora a suspensão da descrença não chegue para engolir por completo algumas coisas: um grupo de humanos e não-humanos, no universo dos Heechee, prepara-se para assistir, a uma distância segura e por meio de um super-telescópio construído especialmente para o efeito, à explosão de uma supernova naquilo que é actualmente, visto da Terra, a Nebulosa do Caranguejo... e num sistema que inclui um planeta com vida inteligente num estado tecnológico semelhante ao nosso no princípio do século XX...
Exchange Rate, de Hal Clement, é fascinante de uma forma parecida: passa-se num planeta rochoso peri-estelar e enorme. Tais objectos exóticos foram encontrados com grande surpresa pelos astrónomos que procuram sistemas planetários longe do nosso, e Clement utiliza as especulações mais verosímeis da ciência actual para construir o seu mundo. A história, em si, falha um pouco, mas a construção do mundo é daquelas que mexe com a imaginação de uma forma muito especial.
E estou a ser injusto com outras tantas (ou mais ainda) histórias magníficas ao não as referir aqui. Basta dizer que é quase criminoso que os nossos editores desprezem estas antologias do Dozois, que reúnem todos os anos parte do melhor que se produziu a nível mundial. Estes livros tinham de ser traduzidos com, no máximo dos máximos, um ou dois anos de atraso, para que os leitores de língua portuguesa pudessem seguir as tendências da FC, em lugar de ficarem eternamente presos aos mesmos autores ultrapassados e, precisamente por os autores estarem ultrapassados, a FC ir perdendo leitores e espaço de mercado a pouco e pouco.
Pois saibam, para concluir, que este livro é excelente, e que é obrigatório para quem quer dizer com propriedade que sabe umas coisas de FC.
Cinco estrelas.
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