Rota de Colisão
por Robert Silverberg
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 12.09.2001
republicada em 25.09.2003
Rota de Colisão ("Course", no original) é, segundo dizem os senhores da Livros do Brasil, um livro de 92. Mas não parece. O Silverberg ou entrou em franca decadência desde o início da década de 90 (se calhar antes?), ou resolveu aproveitar uma novelazinha escrita há 50 anos e desde então na gaveta, para ganhar uns cobres fáceis, ou então são os editores da Livros do Brasil que se enganaram no ano.
Aquelas 201 páginas são duma banalidade que eu não esperava no Silverberg. Em ambiente de space-opera, em que o oligárquico Império Terrestre, mantido unido por teletransporte e em contínua mas lenta expansão pelo Cosmos não encontra sinais de inteligência extra-terrestre, a primeira expedição tripulada mais rápida que a luz regressa à Terra com notícias frescas. Claro, como não podia deixar de ser ali estavam os ETs, a fazer o mesmo que os humanos, no mesmo estado de desenvolvimento tecnológico e civilizacional, etc., etc.
Entram os diplomatas no jogo, para traçar fronteiras, e o livro conta a história da expedição diplomática. Enfim, entrar em mais detalhes seria estar a fazer spoiler para quem quer ainda ir ler o livro. Basta saberem que no fim aparece o mais típico e mais clichento dos Deus ex Machina para dar um fecho na história.
Tudo muito fraquinho. Até a tradução. Mas, e este é um grande mas, finalmente a Livros do Brasil tem uma tradução que pode ser fraca mas é aceitável na medida em que se aproxima da média das traduções que andam por aí, no género e, suspeito, fora dele. A Alexandra Santos Tavares, estando longe de ser brilhante, é a melhor tradutora que a Argonauta teve em décadas. A léguas de Euricos da Fonseca e quejandos. Boa!
Resumindo e concluindo a única coisa que safa este livro é a relação qualidade/preço. A 615 paus é um livro que, apesar de tudo, vale a pena comprar. Agora, se são fãs do Silverberg desde os tempos em que a Europa-América publicava os seus melhores trabalhos (Labirinto, A Torre de Vidro, Crónicas de Majipoor, etc.) como eu sou, preparem-se para uma grande desilusão.
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