O Filho do Homem
por Robert Silverberg
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 16.09.2001
republicada em 24.09.2003
O Filho do Homem, do Robert Silverberg, é tradução de Son of a Man feita por Luís Cadete, um original de copyright duplo de 1971 e 1996, editado logo em 1996 pela Europa-América na sua colecção FC de Bolso com o número 225.
É um futuro longínquo para o qual o protagonista, Clay, é atirado sem que se saiba como. Um futuro situado na agonia da Terra, em que esta é habitada pelos "filhos do homem", uma série de espécies diferentes, todas descendentes do Homo sapiens, cada uma mais estranha que a outra. A própria Terra divide-se em zonas de realidade anormal, caracterizadas todas elas por um elemento desenvolvido até ao exagero, o Gelo, o Peso, o Fogo, etc. Clay vai viajando por todas elas, tomando conhecimento com os seus habitantes, ciceronado por um grupo de "skimmers", os filhos do homem, a última das espécies, capaz da mais mágica das magias.
Entre metamorfoses, sexo e viagens, o mundo que Silverberg desenvolve é de uma imaginação luxuriante e pictórica. Desde as primeiras páginas faz lembrar os célebres ambientes de Hieronymus Bosch, se bem que desprovido de boa parte do carácter monstruoso dos quadros do holandês.
Não há ali ficção científica. Mas é um excelente livro de fantasia, que só fraqueja ligeiramente quando, na segunda metade, parece que o Silverberg só mantém a história a correr para nos mostrar todos os lugares mágicos que menciona no início. Mas como o verdadeiro protagonista do livro é o mundo... Outro defeito que poderá ter para alguns leitores é a sua densidade, agravada pela pequenez das letras. Não é livro para ler a correr. É livro para ir lendo a pouco e pouco, e saboreando cada capítulo como uma iguaria.
Quanto à tradução, é no geral competente, mas tem falhas algumas das quais muito irritantes. Por que arrevezado processo mental, por exemplo, decidiu o tradutor deixar em inglês os nomes dos lugares (Ice, Fire, Heavy, etc.) e das espécies (destroyers, eaters, etc.), quando é óbvio que o Silverberg, ao dar-lhes aqueles nomes, quis mostrar que os nomes apenas os descrevem? Fora essa falha e algumas mais, tem pelo menos o mérito de não ter medo das palavras e traduzir "fuck" por "foda-se", não por "co'a breca" como é demasiado frequente acontecer com os nossos tradutores.
Resumindo, não será obra-prima mas é um livro excelente. Nas bolinhas, à cinema, dava-lhe 4 só e apenas porque não me parece que seja obra-prima. Mas é sem dúvida um 4 alto...
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