O Besouro no Formigueiro
por Arkadi e Boris Strugatski
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 03.12.2002
republicada em 24.06.2003
Este romance dos irmãos Strugatski leva-nos de volta ao universo de Prisioneiros do Poder. No entanto, a abordagem é completamente diferente da daquele livro. Voltamos a encontrar aqui Maxim Kammerer, já não na pele de um jovem e algo inconsciente explorador, mas muitos anos mais tarde, como um dos profissionais de topo (ou como o profissional de topo) na sua instituição. Voltamos também a encontrar, embora de passagem, o planeta Saraksh (e se não sabem que planeta é esse, leiam o livro. Aliás, leiam os livros), lar de uma nova espécie inteligente, os golovans (palavra derivada do russo para "cabeçudo"). E encontramos pela primeira vez o besouro no formigueiro.
O besouro no formigueiro é Lev Abalkin, um progressor que abandona o seu posto sem dizer nada a ninguém, e que volta à Terra, em busca não se sabe bem de quê, embora estivesse terminantemente proibido de o fazer.
(Um parêntesis para explicar que os progressores são técnicos terrestres que se dedicam a influenciar secretamente as sociedades atrasadas de planetas distantes, no sentido do progresso tal como ele é entendido na Terra. São uma mistura de sociólogos, agentes secretos e exploradores, e aparecem em vários livros dos Irmãos Strugatski, entre os quais se contam Prisioneiros do Poder e Que Difícil é ser Deus!, ambos já criticados no E-nigma.)
Lev Abalkin está, portanto, no centro de um mistério e de todos os acontecimentos deste livro. A Kammerer cabe, desta vez, a tarefa de encontrá-lo e de tentar descortinar o porquê dessa busca no novelo embaraçado das informações incompletas que recebe dos seus chefes.
Já perceberam, não é? Trata-se de um livro policial em cenário futurista, centrado não na descoberta de um criminoso (e daí...) mas sim na descoberta do local onde se encontra um indivíduo desaparecido. E como informação sobre a trama, chega. O resto - os muitos mistérios que enevoam o livro - fica à vossa conta descobrir, e garanto que a descoberta vos surpreenderá.
Com uma tradução de tradução que, mais uma vez, resulta bem, este é outro bom romance dos irmãos Strugatski e outra boa edição da Europa-América, que resolveu pôr a colecção de livros de bolso em ponto-morto com alguns livros de grande qualidade. Do mal o menos...
Quatro estrelas.
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