Acabou-se!
por Luísa Marques da Silva
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 09.10.2003
O conto Acabou-se! e, em menor escala, o conto Mel e Propólis, inauguraram, à segunda edição, a abertura que o Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes tem revelado a obras enquadráveis no vasto campo da literatura fantástica.
O conto de Luísa Marques da Silva é uma história fantástica bem escrita e bem construída sobre um rapazinho que, depois de perder um gato e um avô, dá um grito de "Acabou-se!", decidindo que a partir desse momento nunca mais nenhum dos seres que lhe estão próximos morrerá. E fá-lo com tanta força que a Morte deixa mesmo de conseguir arrebatar-lhe amigos, família e animais de estimação.
Esta é a origem da história, mas a maior parte do conto desenrola-se muitos anos depois, quando o antigo rapaz, agora com 93 anos de idade, decide convocar todos os que lhe estão próximos, toda a sua vasta família, para uma grande festa que comemora o 115º aniversário da mãe. A festa tem lugar numa propriedade familiar, um velho casarão de quinta, também ele decrépito, tanto ou mais que muitos dos convivas, que são obrigados a sobreviver na companhia de enfermeiros particulares com a função de lhes aliviarem os achaques típicos da idade. É que não é só a mãe que tem mais de 100 anos...
O que compõe a história, no entanto, não é a festa. É, sim, o duelo que Henrique (assim se chama a personagem principal) trava com a Morte, que às tantas aparece sem ser convidada, a fim de tentar finalmente levar consigo os mais velhos dos convivas.
E mais não digo. Quem quiser ficar a saber o desenlace que leia o conto.
Não é difícil: esta história arrecadou uma das menções honrosas do prémio Teixeira Gomes de 2000, tendo sido por isso publicada independentemente em 2001, e foi republicada nesse mesmo ano no livro de contos Sete Histórias por Acontecer que Luísa Marques da Silva publicou pela Hugin. Há, portanto, duas edições no mercado, à escolha.
Mas, já agora, e como nota final, deixem que vos diga que comparando este conto com os outros premiados naquela edição do prémio Teixeira Gomes, é minha opinião que Acabou-se! deveria ter sido premiado a um nível mais elevado do que a menção honrosa. É verdade que não é nenhuma obra-prima, mas é um texto bem elaborado com uma ideia inteligente e inquietante e um português bastante bom. Ou seja, é um objecto literário a todos os níveis superior a alguns premiados.
São opiniões, dirá o júri...
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