Mel e Propólis
por Alexandra Inês
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 25.10.2003
O conto Mel e Propólis, co-vencedor do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes de 2000, é uma fábula escrita em tom realista sobre as atribulações de algumas abelhas inseridas na rígida sociedade da colmeia. Tratando os insectos como seres inteligentes mas não os humanizando, antes dando-lhes uma inteligência que muitas vezes nos é estranha (nas escolhas que são feitas, ou na aceitação de coisas que para nós seriam inaceitáveis), Alexandra Inês consegue criar autênticos alienígenas de quintal, e consegue tornar a sua história muito mais interessante do que se se tivesse limitado a repetir os clichés das fábulas, tradicionais ou não, infantis ou adultas. Sob um certo ponto de vista, Mel e Propólis assemelha-se ao filme Antz: a sua colmeia parece real, habitada por abelhas concretas, e algumas personagens não estão inteiramente satisfeitas com a sua inserção na sociedade rígida da sua espécie. E essa é a melhor qualidade deste conto.
A história é simples. Uma velha abelha-soldado assume a liderança provisória da colmeia quando a rainha morre, evitando a sua desagregação no período que medeia até ao nascimento de uma nova rainha. Depois, essa mesma abelha-soldado vai tornar-se numa espécie de eminência parda, servindo como estabilizador quer da jovem rainha, que não se conforma imediatamente com a sua vida de reclusão dentro da colmeia, quer de uma talentosa obreira, sua protegida.
Mas do outro lado da moeda, o português deixa um pouco a desejar, e a própria estrutura do conto não está inteiramente bem conseguida, acabando por fazer com que o conjunto sofra. Assim, este é um conto aceitável, especialmente como primeiro trabalho publicado, mas não é um bom conto. Olhando para os restantes premiados nesta edição do prémio, não lhe teria atribuído o primeiro lugar, apesar de não ter qualquer dúvida de que merece ver-se premiado e publicado.
Em resumo, dou-lhe três estrelas. Baixas.
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