R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Outras Histórias...

por Gerson Lodi-Ribeiro

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 06.11.2006

Este é um livro muito arrumadinho. Trata-se, como a capa informa, de uma colectânea de contos de ficção científica e história alternativa, distribuídos, por tamanhos, entre quatro contos curtos, quatro contos e quatro noveletas e, por temáticas, em seis partes com dois contos cada uma. A toda esta ordem acrescenta-se um prefácio muito curto, que funciona quase como o pequeno borrão que realça a geometria numa imagem abstracta.
A primeira parte consta de duas histórias de guerra: Todo o silício do mundo e Rendição do serviço de guarda. O primeiro conto, curto, está longe de ser um dos melhores do livro, descrevendo um momento de uma guerra conduzida por robots em que um dos guerreiros faz uma estranha descoberta. Uma boa ideia prejudicada por uma realização algo hesitante. O segundo, uma noveleta, é muito melhor. Ligando a FC à outra grande paixão de Gerson Lodi-Ribeiro, a história, descreve o modo como a evolução da humanidade é dirigida por alienígenas por forma a que os terrestres se transformem em aliados valiosos numa longa guerra travada por espécies inteligentes fundamentalmente não-agressivas contra uma raça invasora de carnívoros.
A segunda parte intitula-se civilizações mesozóicas e consta dos contos Paleontólogo selenita e O voo do Ranforrinco. Estes dois contos, o primeiro dos quais é curto, fazem parte de uma série que Lodi-Ribeiro ambientou num universo no qual teria existido uma espécie de dinossauros inteligentes algures no Cretáceo. O primeiro descreve o modo como é encontrado, por humanos, o primeiro fóssil destes seres (os selenossauros) e sofre um pouco em demasia de infodump, talvez devido à sua curta extensão, ao passo que o segundo descreve o regresso à Terra de uma expedição interplanetária de selenossauros que teria sido apanhada por uma descontinuidade espaço-temporal e teria feito uma longa viagem no tempo até ao nosso futuro. Este conto é melhor, embora também sofra de algum excesso de infodump.
A terceira parte tem duas histórias alternativas: Assessor para assuntos fúnebres e O preço da sanidade. O primeiro é uma noveleta ambientada no universo de O Vampiro de Nova Holanda (de que também faz parte a noveleta Pátrias de Chuteiras), girando em torno de um vampiro palmarino na Londres vitoriana e é das melhores histórias do livro. A segunda, um conto, é uma história complexa passada num Brasil amputado dos estados do sul e submerso numa feroz ditadura, a que se misturam ETs e OVNIs. Não é tão boa como a anterior, talvez por ser uma ideia demasiado complexa para se desenvolver naquela extensão, forçando a longos despejos de informação.
A quarta parte traz-nos duas histórias de amor: Amor esquecido e Xenopsicólogos na fase crítica, dois contos. O primeiro destes contos descreve uma bonita história de desencontro passada num universo em que os seres humanos obtiveram uma certa forma de imortalidade através da informação armazenada por aparelhos de teletransporte, ao passo que o segundo é um conto engenhoso passado num planeta distante habitado por uma estranha espécie inteligente, e que inclui (mas não se resume a) uma história que poderá talvez descrever-se como xeno-amor.
A quinta parte oferece-nos duas histórias de futuro próximo: Regresso ao mundo dos Sonhos e O bom porto de Alpha Centauri A-III, noveleta e conto curto respectivamente. A noveleta explora o que acontece durante e depois da morte, numa Terra futura em que as qualidades telepáticas teriam sido desenvolvidas. O conto curto é um pequeno conto humorístico acerca da descoberta e desenvolvimento de um planeta que gira em torno de Alpha Centauri A e é quase inteiramente constituído por terrenos ideais para o cultivo de um determinado tipo de cultura muito característica de Portugal. E não, apesar do autor ser brasileiro, não se trata de piada de português.
Por fim, a sexta e última parte, engloba duas histórias de futuro distante: Alta Temporal e Alienígenas Mitológicos, conto curto e noveleta, respectivamente. O conto mostra-nos, com um toque mais do que ligeiro de humor, uma negociação entre um representante dos terrestres, única espécie que desenvolveu a tecnologia da viagem no tempo, e uma representante dos elfos, espécie em muitos aspectos mais adiantada mas que cobiça essa tecnologia temporal... ou, em alternativa, uma viagem a um certo ponto da nossa história. A noveleta é uma história em forma de relatório (infodump puro, portanto) acerca de um contacto ocorrido entre a espécie humana e uma espécie de centauróides alienígenas em épocas remotas da história da nossa civilização.
Outras Histórias... é um bom livro de ficção científica. Embora não inclua nenhuma história realmente brilhante, mostra-nos uma série de boas histórias, em geral bem construídas e bem escritas, com o senão, que é habitualmente a principal pecha na FC de Gerson Lodi-Ribeiro, de se apoiarem em demasia em despejos de informação, os célebres e ocasionalmente enfadonhos infodumps. Além disso, é também uma apresentação bastante completa das várias vertentes do trabalho do autor até meados dos anos 90, incluindo exemplos de quase todos os seus principais universos ficcionais. Abaixo de excelente, acima de razoável, a classificação só pode ser:
★★★★

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Outras Histórias

por Gerson Lodi-Ribeiro

Editorial Caminho

Colecção Caminho Ficção Científica, nº 179

1997

Pátrias de Chuteiras

Críticas a obras editadas por Gerson Lodi-Ribeiro

Como Era Gostosa, a Minha Alienígena!

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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