Galápagos
por Kurt Vonnegut
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 05.09.2001
republicada em 12.06.2003
Este é um livro estranho, mais fantástico que de FC (de FC só tem o ser passado numa espécie de futuro, ou pelo menos naquilo que era futuro quando foi editado pela primeira vez, em 85. E também um par de aparelhómetros engraçados), ou se calhar mais do que fantástico, surrealista, com uma história apocalíptica que serve apenas como pano de fundo para a história que interessa mesmo, a de um grupo de pessoas que irão originar toda a humanidade "dentro de um milhão de anos".
É também um livro divertido, ou talvez amargamente irónico. A culpa de tudo o que de mal acontece a cada um e a todos é reiteradamente (quase até ao cansaço) atribída "aos seus grandes cérebros". Isto é uma opinião pessoal do narrador que no decorrer da história se vem a perceber melhor quem é e de onde vem e que acaba por transformar-se também em personagem. Mas é também corroborada pelas "leis da selecção natural" que têm no livro um papel primordial, ou não tivesse ele como pano de fundo as ilhas Galápagos, mesmo que a acção se desenrole principalmente na cidade equatoriana de Guayaquil.
Até em termos de escrita o livro é estranho. Por exemplo, se virem um asterisco em frente ao nome de um personagem é sinal seguro de que esse personagem morrerá em breve. Além disso, está recheado de citações, a propósito ou a despropósito, embora mesmo no despropósito haja um propósito, se é que me faço entender.
Quanto à tradução da Paula Reis, também é estranha. Por um lado, tem a grande qualidade de transmitir com fidelidade toda a irreverência e ironia da escrita do Vonnegut. Mas tem falhas, algumas sérias, que, embora não prejudiquem seriamente o conjunto, acabam por tornar-se irritantes.
Em resumo, um livro curioso e suficientemente bizarro para agradar a quem gosta de coisas invulgares. Mas é dos tais livros que se tornam tão fáceis de amar como de odiar.
A escolha é de quem o ler.
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