R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

O Mundo Louco

por Kurt Vonnegut

uma crítica de Alexandre Beluco

publicada em 24.02.2002

republicada em 18.10.2003

O título do original (Welcome to the Monkey House) é bastante sugestivo, bem ao estilo de Vonnegut, se bem que a tradução para o português, do início dos anos 70, traz o título O mundo louco, que até não soa mal. Esse livro de contos traz pequenas histórias que, segundo o próprio autor, foram escritas para financiar seus romances. Os contos se encaixam no que os críticos costumam dizer de seus livros, conforme ele próprio cita: uma sucessão de risadinhas narcisistas.
O livro traz treze contos e um prefácio. Para quem acompanha a carreira de Vonnegut, esses prefácios trazem pequenos detalhes de sua vida e de seu processo criativo que são pérolas. E seu estilo aparece forte no trecho: "Minha irmã fumava demais. Meu pai fumava demais. Minha mãe fumava demais. Eu fumo demais. Meu irmão costumava fumar demais e depois parou, o que era um milagre da ordem dos pães e dos peixes."
Dos treze contos, publicados entre 1950 e 1968, pode-se dizer que os melhores são Harrison Bergeron e o que dá o título ao livro... Bem vindo à casa dos macacos. Há ainda Para todo o sempre e Relatório sobre o efeito de Barnhouse. E mesmo A longa caminhada para o sempre, que parece não se encaixar no conjunto da obra. Os outros contos mais interessantes são O tabuleiro vivo e História de Hyannis Port. E Vista e use. Além de Os mísseis tripulados.
Em Harrison Bergeron vive-se em 2081 e o governo finalmente conseguiu tornar todas as pessoas iguais. É claro que às custas de empurrões para os mais fracos e de pesos para serem carregados pelos mais fortes e capazes. Mas Harrison, de 14 anos, se revolta e inicia uma revolução, tendo que enfrentar um agente do Imperador que ocupa um cargo denominado como Nivelador Geral.
Em Bem vindo à casa dos macacos vive-se em um futuro não muito distante, em que o planeta abriga nada menos que 17 bilhões de seres humanos. O governo, autoritário, ataca esse fabuloso número e sua taxa de crescimento com algumas armas, e uma delas é transformar as pessoas em cabeças ocas, ou seja, lhes receita um adormecedor das áreas genitais e dos instintos reprodutivos.
Nesse mundo Billy, o Poeta, é um revolucionário, pois lidera um movimento que tenta devolver a consciência às pessoas. Esse movimento seqüestra os cidadãos e os deixa sem o medicamento "adormecedor", e depois que este perde seu efeito lhes dá uma iniciação sexual.
A estória descreve uma das ações de Billy, que, após ter concluído sua missão, recita o seguinte poema:
"Como te amo? Deixa que as maneiras contarei.
Amo-te à profundidade, à largura e à altura
Que minh'alma pode atingir quando se sublima
No pensamento do teu ser e graça ideais."
O final desse conto é fabuloso, é surpreendente e é engraçado. É um final como o de outros livros do autor, que nos fazem rir, mas que também parecem conseguir transmitir algo que tem a ver com a crueza da realidade mas vista de um ponto de vista romântico. É como se o riso tivesse ficado preso ao longo do texto e fosse liberado ao final. Como uma tensão que enfim se afrouxa.
Por fim, esse livro reúne contos de ficção científica escritos por Vonnegut para que conseguisse financiar seus romances, que em princípio ele atribuiria valor maior. Esses romances flertam com a ficção científica, apresentam elementos um tanto fantásticos, mas é difícil classificá-los estritamente como ficção científica. Uma pergunta então... não teriam sido esses contos escritos por Kilgore Trout?

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O Mundo Louco

por Kurt Vonnegut

Editora Artenova (Brasil)

tradução de George Gurjam

1969

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