Foi Amanhã
por João de Mancelos
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 12.09.2001
republicada em 26.08.2003
O livro Foi Amanhã é um livro relativamente pequeno (tem 144 páginas) e inclui duas noveletas (Breve História do Nascimento dos Anjos e Jogos Bárbaros), dois contos (Águas Eternas e Nas Margens do Deserto) e três contos curtos (O Espécime Distante, Quem Está Aí? e Thiara).
É um livro de FC, mais soft que hard, com alguns enganos em termos de ciência, se bem que nada tão escandaloso como os oceanos em Júpiter da outra senhora. Enganos relativamente passáveis. Um deles é a velha história de carros que continuam a encontrar gasolina muitos anos depois de o último litro ter sido refinado, que tanto irrita o Barreiros n'Os Beduínos a Gasóleo do João Botelho da Silva.
Não é um livro excelente, portanto, e não só por causa disso. Digo mesmo que só raramente é bom, dadas as falhas de revisão e algumas de português que tem. Mas às vezes é bom. E quando não o é, navega durante a maior parte do tempo pelo "escapatório" legível, só raramente descendo abaixo disso. É sem dúvida melhor que os últimos Argonautas, é melhor que parte dos contos da última colectânea da Simetria (onde o Mancelos, estranhamente, nunca entrou), é melhor que a grande maioria das coisas publicadas na web, é melhor que tudo o que saiu no Paradoxo número 4.
Por vezes cheira fortemente a Bradbury, por vezes navega mais por um certo Silverberg, por vezes é mais indefinível. São boas referências, embora antigas (e o Mancelos não tem culpa de pouco se publicar de recente em Portugal) e embora as referências e colagens sejam sempre piores (às vezes bastante piores) que o original, até porque lhes falta uma certa originalidade que é sempre bom que haja.
Por isso, pela sua estrutura, pela originalidade de tema e abordagem, e mesmo pelo desfecho, eu destaco a noveleta Jogos Bárbaros como o melhor texto da colectânea. Este texto é bom. Imaginem que um grupo de civilizações tem um processo que permite "raptar" terrestres, que vão parar às suas coutadas de caça... como caça. Que armas terá uma civilização dessas? Que poderá a Terra fazer quanto a isso?
Quanto a recomendar a colectânea, recomendo-a sem dúvida a todos os que queiram andar bem informados sobre o que se vai fazendo por cá. Para os que só estão interessados em coisas excelentes, é dispensável pois é claro que este livro está a anos-luz do que de melhor se faz lá fora... e do pouco de excelente que se faz cá dentro. Já os que se contentam com alguns textos bons, podem gostar ou não, daí que não recomende nem deixe de recomendar.
Para mim, foi leitura que valeu a pena. Cinematograficamente, dar-lhe-ia três estrelinhas...
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