R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

A Disfunção da Realidade - Emergência

por Peter F. Hamilton

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 24.10.2002

republicada em 11.08.2003

A Livros do Brasil cometeu a maldade de dividir um único livro, que ainda por cima é apenas o primeiro de uma trilogia, em dois, a que chamou Emergência e Expansão sem que esses nomes tenham grande coisa a ver com algo que o autor tenha escrito - mesmo que definam, vagamente, aquilo que se passa em cada uma das partes. Como se não bastasse, a editora ainda resolveu dividir cada um destes pseudo-romances assim criados artificialmente em dois volumes, transformando assim um único livro em quatro, publicados ao longo de quase um ano, entre Junho de 2000 e Abril de 2001. É certo que o The Reality Disfunction original é uma coisa imensa, suficiente para que cada um dos quatro volumes portugueses ronde as 300 páginas, uma espécie de Guerra e Paz da ficção científica. Mas não é por isso que a ideia da editora se transforma numa boa ideia, tanto mais que por enquanto não há quaisquer sinais de que a Livros do Brasil vá publicar o resto da trilogia.
Entre as várias consequências que a opção da editora tem, uma das menos relevantes é que esta crítica acaba por incidir apenas sobre a primeira metade de A Disfunção da Realidade, ou seja, sobre a Emergência.
"O espaço no exterior do cruzador de ataque Beezling rasgou-se em cinco locais". É assim que começa o primeiro volume, e este é dos tais começos que não enganam ninguém sobre o que vem aí. Olha-se para aquela frase e pensa-se imediatamente: "pronto, tenho nas mãos uma space-opera". E tem-se mesmo.
Em Emergência os leitores vão sendo apresentados, lentamente, aos vários aspectos do universo construído por Peter F. Hamilton para esta trilogia. Um universo cheio de planetas humano-compatíveis que vão sendo abertos à colonização, geridos como empresas privadas e povoados com a fauna típica duma qualquer cidade norte-americana do início do século XXI, excepto num pequeno pormenor: o universo está dividido entre duas grandes correntes básicas de cariz filosofico-religioso: os adamistas, humanos "puros", que rejeitam os melhoramentos genéticos, e os edenistas, humanos geneticamente alterados, que vivem em habitats bio-tecnológicos (ou habitats bitek), também eles resultado de engenharia genética, e dotados de inteligência própria, com os quais os humanos edenistas desenvolvem "laços de afinidade" semelhantes à telepatia.
Ao longo de Emergência, ficamos a conhecer estas coisas a pouco e pouco. Esta primeira parte do livro vai acompanhando, por um lado, o progresso de um grupo de colonos recém-chegados a Lalonde, um planeta recentemente aberto à colonização e, por outro, a vida de Joshua Calvert, um aventureiro descendente directo do Han Solo de Star Wars (com uns pozinhos, às vezes valentes, de Don Juan e de Indiana Jones), e dos seus amigos edenistas de Tranquilidade, um habitat bitek que vive próximo do Anel da Ruína, um anel de detritos em órbita em torno de um gigante gasoso, provenientes da destruição de um antigo habitat alienígena, construído por uma espécie desaparecida, cujo desaparecimento a humanidade (ou partes dela) procura investigar.
E é isso. Como é óbvio, Emergência não é um romance, logo não tem sequer um indício de conclusão. Acaba-se estes dois volumes quando algo de anormal acontece em Lalonde, os colonos começam a perder o controlo do planeta e ainda não se sabe nada mais. Por outro lado, em Tranquilidade, Joshua faz uma descoberta importante, que o enriquece, e salta para a cueca de todas as fêmeas que lhe aparecem à frente, incluindo a herdeira de Tranquilidade, Ione Saldana. Acaba-se mas não se acaba, fica-se à espera de mais, do mais que só virá em Expansão, os 3º e 4º volumes de A Disfunção da Realidade.
E, quando se acaba, olha-se para trás, para as 600 páginas que se acabou de ler, e fica-se algo perplexo a tentar perceber que foi que aconteceu de facto ao longo de todos aqueles milhares de palavras. Nesta altura encolhe-se os ombros, acha-se a tradução bastante razoável e fica-se à espera de mais, de forma simultaneamente curiosa e apreensiva.
Pois que venha o mais...

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A Disfunção da Realidade - Emergência I

por Peter F. Hamilton

Livros do Brasil

Colecção Argonauta Gigante, nº 8

tradução de Elsa T. S. Vieira

2000

A Disfunção da Realidade - Emergência II

por Peter F. Hamilton

Livros do Brasil

Colecção Argonauta Gigante, nº 9

tradução de Elsa T. S. Vieira

2000

Críticas a outras obras de Peter F. Hamilton

A Disfunção da Realidade - Expansão

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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