R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Os Caminhos das Estrelas

por Poul Anderson

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 28.10.2001

republicada em 27.06.2003

Ora aqui está um livro interessante. Não propriamente pela história, muito menos pelo modo como foi contada. Mas Os Caminhos das Estrelas, livrito de 186 páginas que a Argonauta pôs cá fora com o número 520, chamado Star Ways no original é, sem dúvida, curioso.
Quando em 1956 Poul Anderson escreve isto, a FC estava cheia de produtos semelhantes: space-operas literariamente pouco mais que nulas feitas à medida para adaptar ao espaço (ou melhor, a uma fantasia travestida de espaço) velhos temas, velhos conflitos e velhos clichés de coisas tão banais na altura como as histórias de gangsters, os faroestes, os romances de cavalaria ou as próprias óperas, que acabaram por dar o nome ao sub-género (embora o ascendente mais próximo fosse provavelmente a opereta).
Pois é uma space-opera que Anderson nos apresenta em Os Caminhos das Estrelas: uma cultura mercantil e guerreira de humanos nómadas, chamados, precisamente, Nómadas, voga nas suas naves gigantescas pela periferia da União Estelar, uma confederação de mundos humanos e alienígenas (humanóides, claro, provavelmente com altos esquisitos no crâneo) que segue as regras básicas da coexistência pacífica corporizadas nos Coordenadores. Nómadas e União Estelar olham-se com desconfiança mútua devida à diferença quase irreconciliável de estilos de vida e de atitudes perante o Universo. O conflito é iminente, à medida que a esfera da União se alarga e os Nómadas se vêem "escorraçados" cada vez para maiores distâncias do centro...
... até que são encontrados alienígenas. Alienígenas agressivos.
Isto tudo soa familiar, não soa? Desde o título da coisa aos pormenores, não é? Pois. Suspeito fortemente que o "génio" Gene Roddenberry andou a ler uns livritos do Poul Anderson antes de embarcar na sua "genial obra", a série que arrasta consigo multidões de lobotomizados (junto com um punhado de fãs inteligentes) há décadas. Chama-se a série Star Trek. Em português, O Caminho das Estrelas...
Os pontos de contacto são demasiado fortes para ser coincidência. Mas o livro do Anderson é melhor. Porque tem, se bem que muito mal desenvolvida, uma cultura pacífica e não-expansiva que paradoxalmente se expande e começa a fazer a guerra para sobreviver à expansão da cultura humano-cêntrica da União Estelar. É, portanto, um livro mais complexo e subtil que a franquia roddenberriana, um livro que, não sendo tie-in do Star Trek, é suficientemente próximo disso para poder servir de ponte para o resto da FC, podendo servir para mostrar aos incondicionais trequianos que fora dos parâmetros estreitos dos Vulcanos, Klingons e demais fantasias revestidas de tecnologias há um mundo imenso de ficção científica digna desse nome, mais complexa e mais subtil. E, consequentemente, mais interessante.
Mesmo quando não pretende passar de entretenimento para as massas, como é o caso deste livro.
Quanto à tradução. É provável que este livro fosse particularmente fácil de traduzir. Mas o que é certo é que a Alexandra Santos Tavares fez, mesmo assim, um excelente trabalho. Esta foi, sem dúvida, a melhor tradução que vi na Livros do Brasil desde há muito, muito tempo e mete num chinelo muitas traduções recentas da Europa-América e algumas da Caminho. Parabéns.
Mesmo que tudo somado, apesar do relativo interesse da coisa, apesar da boa tradução, o livro não passe, com bastante boa vontade, de duas bolinhas. Mas pelo preço que custa, vale a pena comprar...

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Os Caminhos das Estrelas

por Poul Anderson

Livros do Brasil

Colecção Argonauta nº 520

tradução de Alexandra Santos Tavares

2000

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Jorge Candeias escreveu:

 

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2002

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