Greg Bear é um dos nomes mais importantes da FC americana desde meados dos anos 80 e o facto trivial de ser genro de Poul Anderson pouco tem a ver com isso (mas os leitores gostam de saber destas coisas). A realidade é que Bear deixou um rasto de grandes obras desde que publicou Blood Music em 1985 (nomeado para o Hugo, para o Nebula e para uma série de prémios menores), que lhe deram até hoje dois prémios Hugo e cinco prémios Nebula.
A par das grandes obras originais, entretanto, a carreira de Bear tem sido pontuada (alguns diriam "manchada") por incursões pelo mundo das novelizações das grandes franquias mediáticas. Bear pôs o pé em ambas, com um romance passado no universo de Star Trek e outro no de Star Wars.
Algures entre estas duas extremidades estão outros romances em que Bear desenvolve histórias passadas em universos ficcionais criados por outros escritores, assim como que uma espécie de fan fiction de luxo, para profissionais. Um desses livros faz parte da Segunda Trilogia da Fundação, baseada na obra de Asimov; outro é este, O Verão dos Dinossauros.
O Verão dos Dinossauros tem lugar no mundo habitado pelo irascível professor Challenger, criado no princípio do século por Sir Arthur Conan Doyle, no qual ao planeta que todos conhecemos é acrescentado um planalto perdido nas regiões mais remotas da Venezuela, o El Grande, onde as mais variadas espécies de dinossauros sobreviveram até aos dias de hoje.
Bear pega neste ambiente em 1947, numa altura em que a decadência da atracção que os dinossauros constituíram durante as décadas anteriores é irremediável. Segundo nos conta Bear, desde o regresso do professor Challenger a Inglaterra e da publicação da sua fantástica viagem ao Mundo Perdido, uma tremenda dinomania tomou conta do planeta e surgiram um pouco por todo o lado circos especializados na exibição dos grandes répteis. Mas não é isso que nós vemos: nós assistimos ao fim, à decadência, ao tempo em que a mania passa e os circos abrem falência e são obrigados a desfazer-se dos animais que, por seu lado, se encontram, quase todos, ameaçados de extinção por caça excessiva, lá no seu planalto.
É essa a razão, aliás, que leva um dono de circo mais consciencioso a resolver devolver os seus animais ao seu habitat. Para esse fim, monta uma expedição, financiada em parte por um produtor de Hollywood, que pretende transformar aquela grande aventura num filme, e pela National Geographic, que conta ter no retorno uma excelente reportagem para cativar os seus leitores.
Bear consegue desta forma dar uma razão para estar ali às suas personagens. Do lado de Hollywood, vai buscar nomes conhecidos e reais, como Ray Harryhausen, um dos grandes animadores de
stop motion dos anos 50 e 60, que é ficcionado com bastante relevo neste romance. E através da National Geographic chegam ao romance as suas personagens principais: Anthony, um aventureiro bastante irresponsável, que consegue emprego como fotógrafo da NG para aquela expedição, e o seu filho adolescente, Peter, que é arrolado mais ou menos à má fila pelo pai, como repórter.
É Peter o centro do romance, e é Peter que seguimos desde o início.
Ora bem: um livro com dinossauros e com uma personagem principal adolescente? É livro juvenil pela certa. Quem pensar assim pode ter a certeza de que está a raciocinar correctamente, e com mais certeza fica quando repara que o romance é profusamente ilustrado.
De facto, Bear procurou precisamente isso: fazer um livro juvenil, que captasse a ligeireza dos livros de aventuras de Conan Doyle (que não eram propriamente juvenis na altura em que foram publicados, mas entretanto tornaram-se porque, à semelhança dos romances de Júlio Verne, o tempo os cobriu com uma capa de ingenuidade bastante espessa).
Infelizmente, Bear não foi lá muito bem sucedido. Falta ritmo e emoção a este romance. Ou seja: falta-lhe credibilidade como romance de aventuras. É que a obra está dividida em dois livros: o primeiro conta aquilo que se passa até que a expedição chega ao El Grande com a sua carga, numa longa viagem por mar, por rio e por terra, cheia de dificuldades, e o segundo, mais curto, conta aquilo que acontece à expedição depois de atingir o El Grande. E é só nas últimas 50 páginas deste segundo livro que a história consegue ser emocionante, depois de terem ficado para trás quase 300 páginas que, embora sejam leitura agradável, nunca chegam a prender realmente o leitor, como é suposto que aconteça num romance de aventuras bem feito.
Dito de outra forma, este livro cai na mais comum das armadilhas das sequelas, não conseguindo ser suficientemente inovador para evitar tornar-se simplesmente derivativo, e não alcançando o mesmo nível de qualidade da obra original naquilo que ela tem de melhor.
Mas o romance não falha por inteiro. Lê-se bem, tem alguns pontos de interesse e bem conseguidos, a utilização de persongagens reais em ambiente ficcional é no mínimo curiosa, e a edição portuguesa tem uma tradução bastante aceitável. O resultado final são, portanto, três estrelinhas.
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