O Túnel do Tempo
por Murray Leinster
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 17.09.2001
republicada em 22.08.2003
O romance O Túnel do Tempo, de Murray Leinster, é a tradução portuguesa de The Time Tunnel feita pelo nosso velho conhecido Eurico da Fonseca e publicada na Argonauta com o número 128. Como era hábito no tempo, não há qualquer informação sobre a data de edição, mas segundo a extrapolação dos números da colecção, o ano deverá ter sido 1968 (e o mês Março). Um item de alfarrabista, portanto.
Leinster cria uma história Wellsiana adaptada aos Estados Unidos. A princípio não havia uma "máquina" propriamente dita, mas no fim até mesmo a máquina do tempo aparece, com características tais que se torna quase impossível evitar imaginá-la como a vimos no cinema.
A história começa em torno de um projecto hiper-ultra-secreto de investigação sobre viagens no tempo, projecto esse que é alvo de investigação por parte de um senador curioso, o que faz supor que o que se segue no livro é uma trama política. Mas não é. O que se segue é a revisitação de dois episódios reais da história americana: a Inundação de Johnstown, quando uma barragem mal construída rebenta devastando tudo a juzante, em especial a cidade de Johnstown, e um ataque índio a um entreposto comercial chamado Adobe Walls, o qual, se tivesse tido sucesso, teria provavelmente mudado a história da expansão dos Estados Unidos para Oeste.
Peripécias há várias, aparecem os inevitáveis paradoxos resolvidos com o recurso ao destino, todos os personagens são masculinos à excepção de alguns bocados de paisasgem literária e de uma técnica do tal projecto ultra-secreto que seria ultra-competente se não fosse também uma histérica tolamente apaixonada por um dos viajantes no tempo, rebentando em berreiros a cada duas intervenções na narrativa. Entretanto, os heróis salvam o passado e acabam por dar um saltinho ao futuro para o salvar também de uma bizarra invasão extraterrestre.
Se exceptuarmos as partes da história passadas em Jacksonville e em Adobe Walls, as decrições dos eventos históricos que aí tiveram lugar e os tímidos esboços do "e se fosse diferente?", afinal o principal objectivo de Leinster, todo o livro acaba por ser muito desinteressante e previsível.
Prejudicado ainda, como não podia deixar de ser, pela tradução do Eurico da Fonseca. Nem é preciso dizer mais nada: este nome dispensa comentários. A não ser para dizer que o Tio Eurico no princípio da sua longa carreira traduzia menos mal que em anos mais recentes...
Finalmente, menção especial para a capa. O Lima de Freitas era qualquer coisa, e a Argonauta perdeu imenso quando o substituiu por montagens fotográficas sem pés nem cabeça!...
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