R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Planeta Duplo

por John Gribbin e Marcus Chown

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 12.05.2005

Há livros para a leitura dos quais se parte com expectativas reduzidas. Os motivos podem ser os mais variados: uma capa pouco atraente, um título desinspirado, referências negativas na imprensa, em sites como este ou naquele terrível crítico que é o boca-a-boca, experiências prévias desagradáveis com o autor, enfim, muita coisa.
Neste caso específico conjugavam-se alguns destes factores. Livros de FC escritos a quatro mãos, de uma maneira geral, ou são escritos a quatro excelentes mãos, ou são escritos pelos irmãos Strugatski, ou são valem grande coisa. E neste caso temos um escritor de terceira ou quarta linha emparelhado com um completo desconhecido na FC, o que decididamente não augura boas coisas. A capa também não é propriamente convidativa, o mesmo se podendo dizer do título.
Ora, começar a ler um romance com as expectativas em baixo pode ter o efeito curioso de potenciar todas as qualidades que ele possa ter. Aquilo que é apenas medíocre parece ao leitor bom, e o que é bom parece óptimo e, na eventualidade de haver algo óptimo, fica o leitor convencido de estar em contacto com qualquer coisa de extraordinário. Assim, torna-se difícil fazer juízos de valor. Mas os juízos de valor são inevitáveis quando se faz crítica, quer sejam apresentados como tal, quer estejam apenas nas entrelinhas.
Planeta Duplo pretende contar uma história complexa que começa quando é descoberto um cometa gigante em rota de colisão com a Terra. A Terra não é bem aquela que conhecemos: aqui estamos num planeta futuro, empobrecido e sujeito a um governo mundial vagamente comunista que governa desde Reiquiavique, um planeta em que o programa espacial não passa de uma memória decadente acarinhada por um grupo reduzido de antigos astronautas e seus amigos, que só continua ainda a funcionar por pura inércia.
Entre mentiras, conspirações e manobras palacianas, o presidente das Nações Unidas acaba por decidir reunir, em segredo, os últimos restos de tecnologia espacial que estão disponíveis para enviar uma expedição ao cometa, a fim de aí colocar em funcionamento motores gigantescos que, segundo se pretende, irão desviar a trajectória do pequeno mundo apenas o suficiente para evitar que ele colida com o nosso planeta.
Acham que já viram o filme?
Provavelmente viram, mas nesse péssimo filme que vocês viram havia só parte da história. Aqui, se bem que haja alguns quase equivalentes do Bruce Willis, além da expedição e da proeza tecnológica que se pretende nela pôr em prática há ainda que contar com conspirações, traições, sabotagens e gente em geral um pouco louca (ou até muito louca — também aparecem sobrevivencialistas).
Tudo isso mais qualquer coisa: uma quantidade impressionante de personagens para um romancezinho de menos de 200 páginas. As personagens abundam de tal maneira e são de tal modo esquemáticas que às tantas se torna difícil saber quem é quem e faz o quê. E, apesar da complexidade da trama, a prosa é de tal modo insípida (ainda prejudicada por uma tradução francamente má) que se chega ao fim do livro penosamente, com uma enorme sensação de aborrecimento a teimar em fechar os olhos.
Será a obra prima de Marcus Chown, mas só porque foi a primeira que co-escreveu. Na verdade, Planeta Duplo é um livro medíocre e bastante dispensável, que não adianta nem atrasa no panorama da ficção científica publicada em Portugal, muito embora não chegue a ser propriamente mau. O veredicto é: ★★

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Planeta Duplo

por John Gribbin e Marcus Chown

Publicações Europa-América

colecção Livros de Bolso Ficção Científica, nº 168

tradução de Pedro Lopes D'Azevedo

1990

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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