R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Mundo Fantasmo

por Bráulio Tavares

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 08.10.2003

Bráulio Tavares teve em 1997 o seu melhor ano em termos de edições no nosso país. Não só viu publicado o romance A Máquina Voadora, como também saiu uma pequena colectânea de contos intitulada Mundo Fantasmo, ambos na Caminho.
Conforme o próprio autor explica na introdução que faz a este volume de apenas 105 páginas, as sete histórias que o compõem são uma espécie de apêndice a A Espinha Dorsal da Memória, tendo sido acrescentadas na edição brasileira daquele livro às 11 que compõem a edição portuguesa.
Porquê? Basicamente porque o livro de estreia de Bráulio Tavares em Portugal foi publicado no seu país vários anos mais tarde, e o autor resolveu incluir nele os contos que escreveu entretanto, acrescentando-lhe um datado de 1981. E depois, para nós, cá deste lado do Charco, não ficarmos a protestar por falta de atenção, ofereceu-nos este livrito com "o resto".
Mas Mundo Fantasmo não é tão bom como os outros dois livros de Tavares. Não tanto por ser bastante mais pequeno do que qualquer um deles, mas principalmente porque lhe falta uma maneira qualquer de transformar aquelas histórias dispersas num todo com alguma coerência. O problema é que as histórias são muito diferentes umas das outras, seja em tema, seja no tratamento que lhes é dado, seja em estilo, seja até mesmo, até certo ponto, em qualidade, e o resultado é um livro desconcertante e desigual que acaba por deixar a pairar uma sensação de insatisfação.
Não se pense do que está dito acima que estes dois contos curtos e cinco contos mais longos são maus. Não. Bráulio Tavares não parece saber fazer maus contos. Desde o encontro desconcertante de um fã de FC com a divindade (ou talvez não) de Oh Lord, Won't You Buy Me até ao computador com preocupações metafísicas de Breves Histórias do Tempo, a qualidade está sempre presente em cada uma das histórias, mesmo que flutue um pouco de uma para a seguinte. É o conjunto que não faz muito sentido. Talvez falte a este volume uma história mais longa e forte que sirva como coluna central, ou talvez lhe falte um tema de conjunto. Ou talvez lhe faltem mais páginas. Não sei. O certo é que lhe falta algo.
O que existe é o regresso à serra do Calabouço de A Máquina Voadora, em História de Cassim, o Peregrino, e de um Crime Perfeito que Deus Castigou, o concerto insólito de Paperback Writer, concerto interactivo dado por um escritor, que vai escrevendo uma história em directo perante uma plateia que determina o sentido em que a história prossegue. Há também a experiência narrativa de Expedição às Profundezas do Oceano, onde se conta a história de um crime que não se sabe bem se o foi ou não, ou a experiência temática de Exame da Obra de Guiseppe Sanz, uma pequena história borgiana sobre uma obra inexistente de um escritor inventado. E há, por fim, a fantasia de E Assim Destruímos o Reino do Mal, que trata precisamente daquilo que o título indica.
São histórias, todas elas, com o seu quê de estimulante e que em geral se lêem com bastante prazer. O incómodo só aparece no fim do livro. Ou seja, em resumo, e pela qualidade de cada conto individualmente considerado, julgo que este livro acaba por merecer quatro estrelas. Mas esteve quase a ir parar às três.

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Mundo Fantasmo

por Bráulio Tavares

Editorial Caminho

Colecção Caminho Ficção Científica, nº 177

1997

Críticas a outras obras de Bráulio Tavares

A Espinha Dorsal da Memória

A Máquina Voadora

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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