R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Miniaturas

por Paulo Kellerman

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 14.07.2003

Paulo Kellerman causou um problema bicudo ao júri do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes do ano 2000. Trata-se de um prémio destinado a contos e novelas de gente pouco ou nada conhecida, que a Câmara Municipal de Portimão (terra natal do político e escritor Teixeira Gomes) promove anualmente desde 1999, e a que Kellerman resolveu concorrer com uma colectânea de 56 mini-contos suficientemente bons (pelo menos no entender do júri) para serem premiados.
Mas o regulamento não dizia nada acerca de colectâneas, nem as permitia nem as proibia. Eram um caso omisso. E, como é comum acontecer aos casos omissos, quando a situação apareceu houve que resolvê-la de uma forma criativa. Neste caso, a forma encontrada foi a atribuição de um prémio especial (que também não estava previsto no regulamento) às Miniaturas de Kellerman.
E que estão elas a fazer aqui, no E-nigma?
É que cerca de metade daqueles mini-contos são enquadráveis na literatura fantástica.
Ficção científica não há. Mas há fantástico com fartura. Há pequenas fábulas, com animais antropomorfizados que, no entanto, são demasiado inquietantes para lhes podermos chamar literatura infantil (um coelho aprende a voar, os demais coelhos reunem-se em plenário e expulsam-no, e o coelho voador acaba na mesa de um caçador, sem que ninguém lhe toque porque sabe demasiado a pássaro. É só um exemplo), há contos puramente surrealistas, e há outros que enveredam pelos caminhos do insólito.
Em termos de referências, são contos que por vezes lembram bastante os micro-contos de Mário-Henrique Leiria, muito embora desprovidos do conteúdo político que aqueles tinham. Kellerman parece por vezes um cruzamento entre Grimm e Leiria, como que um "Griria", autor inventado de fábulas cínicas e adultas e muito, muito curtas.
Vale a pena ler? Vale. Dentro do género, na ficção ultra-curta, são textos muito razoáveis e que conseguem ter impacto em quem lê, o que raramente acontece com textos tão curtos, que se resumem, na maioria dos casos, a simples anedotas inconsequentes.
Mas as Miniaturas estão, apesar disso, bem longe da obra-prima. São claramente uma obra "preliminar" de um escritor que tem óbvio talento mas que ainda tem muito para crescer. Isto não obstante o aparecimento prévio do nome de Kellerman na lombada de livros - quatro vezes, com quatro colectâneas de contos, todas elas editadas pelo próprio. Esperemos, portanto, que cresça. Entretanto, leva um trio de estrelas para as Miniaturas...

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Miniaturas

por Paulo Kellerman

Edições Colibri / Câmara Municipal de Portimão

2001

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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