Krull
por Alan Dean Foster, sobre argumento de Stanford Sherman
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 30.11.2002
republicada em 07.08.2003
Ora aqui temos um tie-in, e um dos tie-ins que são mesmo perfeitos para exemplificar as virtudes(?) da coisa. Para quem não sabe, tie-in é o termo americano que foi inventado para designar o fenómeno americano de tratar os livros apenas como mais uma forma de merchandising para filmes, e que nós importámos sofregamente (sem, no entanto, sermos capazes de produzir nós próprios equivalentes minimamente eficientes), como fazemos com todos os disparates que nos chegam da América.
Neste caso, estamos perante um romance de Alan Dean Foster, adaptado de um argumento de Stanford Sherman que foi transformado num filme série B (ou C, ou D, ou mais para baixo ainda na escala alfabética) por um tal de Peter Yates, pago, não se sabe se bem se mal (mas muito provavelmente bem demais), pela Columbia Pictures.
A história, se se pode chamar história a isto, trata de um planeta medieval sob ataque e ameaça da Fortaleza Negra, uma nave alienígena ocupada por uma espécie de demónio, muito (mas muito) bera. E, claro, lá aparecem os heróis do costume que irão salvar a situação (e não, não estou a desvendar o fim do livro, porque nele não há a mais pequena surpresa). O demónio bera rapta a princesa (ruiva e de olhos azuis, conforme os fotogramas do filme que vêm como brinde), e lá vai o pobre do príncipe apaixonado mover montanhas para recuperar a sua donzela antes que ela deixe de ser donzela, visto que o demónio bera, como todos os demónios beras, só pensa em saltar-lhe para a cueca. Assim mesmo, que os interesses românticos neste tipo de coisa são uma forma nada encapotada de machismo desbragado.
Forma-se assim uma expedição de resgate e salvamento, composta, como não se pode deixar um cliché por explorar, por um grupo heterogéneo de pessoas e não-pessoas, que inclui salteadores de bom coração, soldados do príncipe, fidelíssimos como sempre, um ciclope, um mago e um "alívio cómico", espécie de proto-bruxo presunçoso. Esta malta vai ter de enfrentar e vencer as inevitáveis manigâncias do demónio bera, e claro que as enfrenta e vence a todas, acabando os valentes cavaleiros medievais por derrotar os ímpios extreterrestres capazes de viagens pelo espaço, não sem deixar uns quantos mortos pelo caminho, para pôr os sentimentais só com um neurónio na cabeça a choramingar um bocadinho no escurinho do cinema... Ah, mas esperem: estou a falar do livro.
OK, falemos então do livro. Tem uma capa a cores, é feito de papel e tem muitas letras. Deve ser uma grande chatice. Não o leiam.
Bola preta.
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