R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

O Homem da Laranja

por Francisco Santos

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 12.11.2003

O Homem da Laranja é uma noveleta que procura traçar um retrato de uma localidade rural do interior algarvio, lançando para isso mão de alguns recursos da literatura fantástica, em especial do realismo mágico.
Tudo começa quando chega à terra um insólito forasteiro que, de laranja em punho, pergunta a todos os que nele esbarram se sabem fazer aqueles frutos. E não, não é cultivá-los e esperar que a natureza os faça brotar das árvores: é mesmo fazê-los. Escusado será dizer que o homem se transforma na principal fonte de falatório do local, gerando desconfortos e perplexidades, e uma longa série de teorias acerca do seu aparecimento e natureza. Que seria um louco, que seria um bêbado, que seria alguém trazido pela oposição para desassossegar a freguesia (teoria do corruptíssimo presidente da junta), que vice-versa (teoria da oposição), etc., etc. Mas o homem vai e vem a seu bel-prazer, sem que ninguém perceba muito bem como se desloca ele entre a terra e o mundo exterior. E, ainda por cima, umas estranhas luzes, brancas e fortes, começam a aparecer nas redondezas. Será que o homem, afinal, é extraterrestre? Será magia?
Não se percebe. Aliás, a verdade é que pouco se percebe nesta história. Parece que Francisco Santos simplesmente se deitou a escrever e deixou que a sua prosa fluísse completamente livre, sem linha condutora, sem sequer uma coerência no que diz respeito a quais das personagens são principais e quais não passam muito de figurantes. Ora parece querer contar a história do homem da laranja, ora este desaparece por completo, substituído pelas idas e vindas do presidente da junta a Faro, onde a meio da história arranja uma amante, sem que isso tenha grande relevância para o que quer que seja.
Pior: o português é bastante fraco. As pessoas não ficam atónitas: ficam "atónicas"; a pontuação é, com frequência, totalmente incompreensível (um exemplo aleatório, que nem é dos piores: "A coisa andava feia para o presidente, a tal escapadela de Faro, não era fácil de gerir e se o outro não pregava olho por causa da lonjura, o presidente não dormia a pensar na Isabel, mais jovem, não só uma diferença de ideias, também uma diferença de tempos, cada um no seu, como em dois mundos diferentes").
Com tudo isto, por que motivo premiou o júri do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes de 2000 este texto com uma menção honrosa? A contracapa talvez ajude a explicar o fenómeno quando nos diz que Francisco Santos é emigrante na Alemanha. É que a ligação dos nossos emigrantes às suas (e nossas) raízes tem o hábito de comover a lusitana alma de passarinho poeta.
E é, de facto, comovente. Mas o facto é que este livro é bastante mau. Uma estrela.

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O Homem da Laranja

por Francisco Santos

Edições Colibri / Câmara Municipal de Portimão

2001

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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