R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Estórias de Clausura e Outros Pequenos Espaços

por José Leonardo

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 21.09.2003

Estórias de Clausura e Outros Pequenos Espaços é um daqueles livros de ficção científica que surgem de vez em quando dos sítios mais inesperados, e tem as qualidades e defeitos comuns à generalidade destes livros.
Trata-se de uma colectânea de 11 contos curtos e três histórias mais longas, todas interligadas por um cenário comum: uma cidade global, logo gigantesca, subdividida em condomínios do tamanho de cidades, onde a opressão, a desumanidade, a falta de horizontes, são as características mais evidentes. São histórias de um futuro inteiramente artificial e desprovido de vida que não seja humana, histórias de gente só e fechada em si mesma, ensimesmada, ou então envolvida em relações patológicas e insatisfatórias, dividida entre a inércia e a vontade de fugir.
O ambiente que se pretende criar é de facto criado. As Estórias de Clausura encerram o leitor nos seus pequenos espaços com pouco ar respirável, e essa é a melhor qualidade que o livro tem. Esse objectivo é atingido a contento.
A prosa, no entanto, não é brilhante. É, em geral, razoável, por vezes é mesmo boa, mas nunca chega a brilhar. E, em termos de FC propriamente dita, o livro deixa bastante a desejar, principalmente por clara falta de contacto do autor com as tendências modernas do género.
É a pecha comum a quase todos estes livros que aparecem de vez em quando, escritos por gente com variáveis graus de talento, do abundante ao nulo, mas que têm em comum grandes limitações no conhecimento do género. São escritores que têm como referências principais os produtos audiovisuais (que por melhores que por vezes sejam estão muitas décadas desfasados da literatura em termos de sofisticação), ou então os grandes nomes da FC do passado, homens e mulheres que fizeram história, mas que hoje são isso mesmo: história. Ao utilizá-los, sem o conhecimento, ainda que parcial, do que veio depois, necessário a uma renovação de temas e abordagens, estes escritores limitam o interesse dos seus livros ao de produtos alternativos da história da FC, e acabam a produzir livros sem frescura nem novidade.
É uma consequência infeliz da ausência de uma verdadeira comunidade informada de FC nacional, um grupo de autores que possa servir de núcleo aglutinador destas individualidades dispersas e cujo trabalho possa ser utilizado como uma forma de delimitar caminhos. E para que essa comunidade surja são necessários muitos Josés Leonardos a ler as obras uns dos outros e, ao mesmo tempo, obras estrangeiras actuais, e é necessária uma crítica atenta e uma base de leitores relativamente ampla.
Em todo o caso, das 14 histórias de Estórias de Clausura uma se destaca da mediania generalizada. A Perseguição é, de longe, a mais bem construída, a mais envolvente das histórias deste livro. Talvez por isso é também aquela em que a pequena inspiração da prosa menos se faz sentir. Seria, talvez, uma história a ser aproveitada se alguém, um dia, resolver apresentar em volume único uma amostragem da ficção científica que se fez em Portugal no virar do milénio.
A Perseguição é uma boa história. Quanto às restantes, são apenas aceitáveis e bastante uniformes, não havendo nenhuma que seja francamente má. Ou seja, Estórias de Clausura e Outros Pequenos Espaços é um livro que se lê relativamente bem mas que não traz nada de novo à FC portuguesa.
Três estrelas.

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Estórias de Clausura e Outros Pequenos Espaços

por José Leonardo

Oficina do Livro

2001

Jorge Candeias escreveu:

 

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Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

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Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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