R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Drácula

por Bram Stoker

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 05.10.2002

republicada em 09.10.2003

Que se pode dizer de Drácula que ainda não tenha sido dito? Descrever a história é desnecessário: graças fundamentalmente às múltiplas adaptações cinematográficas, toda a gente já conhece bem a história de Jonathan e Mina Harker, Van Helsing e restantes membros do grupo que enfrenta e derrota o velho vampiro transilvano Drácula. Analisar o livro, e descrevê-lo, desnecessário é, porque já muitas vezes isso foi feito por gente muito mais competente para isso do que eu. Que resta?
Resta a subjectividade. E resta a probabilidade, pequena mas não nula, de haver quem ainda não saiba lá muito bem de que trata o livro e se os filmes lhe são ou não fiéis. Então, meus caros, é assim:
O que salta mais à atenção de quem lê o livro pela primeira vez é que Drácula pouco aparece no livro que leva o seu nome. Durante a maior parte do tempo é uma presença ausente, que como que está sempre ali, mesmo ao virar da página, e fugindo sempre no último momento quando esta se vira, ou dissolvendo-se em neblina. A outra coisa que salta aos olhos é a estrutura do livro, em forma de documento construído com base em cartas, recortes de jornais e, fundamentalmente, transcrições dos diários dos personagens que combatem o vampiro, dando à história a marca documental do acontecido de facto, o que só salienta mais o carácter esquivo do personagem principal.
Stoker revela com estes artifícios uma habilidade tremenda em gerir emoções, e assim, mesmo apesar do seu estilo de escrita datado, mesmo apesar de toda a envolvência mediática que o tema sofreu nas últimas décadas e que transformou a história numa parte importante da cultura popular globalizada, o seu romance ainda consegue tocar a imaginação do leitor. Isto é, em si mesmo, notável. E revela com toda a clareza a razão por que este livro é um clássico indispensável da literatura mundial, fantástica ou não.
Quem lê o romance depois de ver vários filmes a contar a mesma história, do Drácula de Bram Stoker (de Francis Ford Coppola, caso não saibam) à versão cómica com Leslie Nielsen, tem uma grande dificuldade em libertar-se das imagens dos filmes, e é pena. Comigo aconteceu várias vezes, em momentos de grande intensidade dramática, em que o Vampiro procura a vítima para beber-lhe o sangue, começar a rir ao lembrar-me do morcego com cara de Leslie Nielsen a esborrachar-se de encontro à janela. Durante a estadia de Harker no palácio de Drácula e ao longo da viagem deste até Inglaterra, as imagens de Drácula de Bram Stoker foram uma companhia constante da minha leitura. Mas, ao chegar ao fim, a sensação é de tempo bem gasto, porque há coisas no livro que não há em nenhum filme, nem provavelmente chegará alguma vez a haver.
É que o livro é um clássico, merece cinco estrelas sem pestanejar, e os filmes, por melhores que sejam, não passarão nunca de produtos de segunda linha.

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Drácula

por Bram Stoker

Editorial Minerva

Colecção Minerva de Bolso, nº 7

tradução de Mário Gonçalves

1972

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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