Contos Fantásticos
por Teófilo Braga
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 18.09.2001
republicada em 15.07.2003
Os contos do nosso ex-presidente originalmente publicados pela Typographia Universal, em 1865, estrearam em Março de 2001 (segundo o que vem escrito no livro) a colecção Bibliotheca Phantastica, da Hugin, que se propõe publicar alternadamente um "clássico esquecido" e um "contemporâneo". O volume inclui além dos 14 Contos Fantásticos (para manter a coerência ortográfica deveriam, talvez, chamar-se "Contos Phantásticos"...) que saíram em jornais antes de serem reunidos em volume, uma carta de Teófilo Braga ao editor da época, e uma extensa introdução do editor de agora, António de Macedo.
Inclui também um texto na contra-capa. Aquilo que se pretende que seja um chamativo. Reza assim:
"Pese embora aos propósitos inovantes do autor, os catorze contos que ele aqui reuniu não escapam aos arrebatamentos lirico-sentimentais dum romantismo de segunda vaga, de fundo mórbido, alucinado e sepulcral, onde o amor e a morte andam geralmente de mãos dadas. Em quase todos eles a heroína morre no fim, vítima de amores umas vezes misteriosos, outras vezes trágicos, outras ainda sobrenaturais; as referências a fenómenos psíquicos, mediumnidade, segunda vista, êxtases, visões, são frequentes."
Depois de ler isto, saúde-se embora a honestidade, fica a pergunta: se o livro é assim tão mau, por que carga d'água o publicaram? E quantos leitores esperam aliciar com um texto destes na contra-capa?
O trágico (ou talvez tragicómico) é que o livro é mesmo muito mau. Teófilo Braga, na época em que escreveu estes contos, era muito novinho, muito inexperiente, muito imberbe literariamente. Não sabia o que era um final para uma história. Não sabia organizá-la por forma a torná-la interessante. Não sabia sequer manter-se actualizado com as tendências do seu tempo, num fenómeno que, afinal de contas, é característico de um certo género de escritores. Os descendentes de Teófilo Braga, hoje em dia, continuam a escrever tentando imitar o estilo de Lovecraft, Poe, Tolkien, E. E. "Doc" Smith ou Asimov, como se entretanto os géneros e estilos não tivessem evoluído.
Teófilo Braga nunca se destacou como escritor. Passou à posteridade como político republicano e, no campo das letras, como ensaísta e historiador. Nestes contos percebe-se porquê: o respeitável senhor é singularmente desprovido de talento para ficcionista. Ele bem tenta, mas não chega lá. É inútil. O resultado dos seus esforços é patético, por vezes ridículo, outras vezes simplesmente desprovido de sentido.
Feitas as contas ao volume, a parte mais interessante acaba por ser o ensaio inicial de António de Macedo, pese embora a incapacidade que este revela em retirar do texto um certo tom missionário relativo à sua particular visão do mundo cheia de ocultos e rosas-cruzes. Também tem algum intresse a carta de Teófilo Braga ao seu editor. O resto...
O resto é muito pouco, quase nada, para tanto papel.
É livro só e apenas para coleccionadores, para quem insista em ter em casa a história completa do fantástico português. Aos outros, recomenda-se que fujam dele.
Bola preta.
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