R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Contos da Sétima Esfera

por Mário de Carvalho

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 27.12.2001

republicada em 21.07.2003

O título deste livro, para os indefectíveis da ficção cientificamente científica, é daqueles que situam e repelem. "Sétima esfera" soa ao velho misticismo alquímico, com a sua mistura de mito pagão, bíblia e anti-cientificismo.
Para os apreciadores de um fantástico menos científico o título é um pouco mais agradável, mas os ecos de Paulo Coelho podem soar mal na mesma. No entanto, se souberem que Mário de Carvalho viu publicada a primeira edição desta sua obra de estreia em 1981, talvez sosseguem um pouco. Nessa época ainda não havia a sombra de Paulo Coelho a pairar sobre uma literatura que se pretende séria.
Séria?... Os Contos da Sétima Esfera não pretendem ser sérios. Pelo contrário, o humor nestas histórias é tão constante que se alguma coisa se pretende é que sejam divertidas...
São ao todo 23 histórias, num volume de 200 páginas certas, dividido em três partes, sem que se compreenda muito bem que critério houve para essa divisão. Quase todas têm no fantástico a sua base, se bem que só uma (O Bólide) se aproxime de um tipo de ficção científica verniano. Talvez por isso, é esta uma das piores histórias de todo o livro. É que para fazer FC há que saber fazê-la...
Quanto às outras, são na sua maioria interessantes. Mário de Carvalho passa de registo para registo ao longo de todo o volume de uma maneira fluida, que não choca. E isso é difícil, pois a diversidade é muita: por vezes a história soa a mito babilónico ou sumério, outras a fábula do al-Andaluz, outras a conto anglo-saxónico de Poe ou Lovecraft, outras a conto popular. Talvez esteja no humor o fio condutor, porque em todas as histórias se sente a presença de uma ironia fina, o autor como que mostra que nada do que escreve é para levar muito a sério, que aquelas histórias são nada mais do que histórias. Ninguém acredita, por exemplo, num "professor Pfiglzz", e quando aparece este nome num título, o leitor entra no conto já com um sorriso ao canto da boca.
Mário de Carvalho excede-se quando mexe no tempo, e os contos que perduram mais na memória são aqueles em que algo de anormal se passa com o normal fluxo das coisas, do passado para o futuro. Almocreves, Publicanos, Ricos-Homens e Ciganos é um conto fabuloso, talvez o melhor da colectânea, e A Espada Japonesa ou O Sonho são quase tão bons. E não são os únicos contos interessantes do volume, longe disso.
Pena que o exemplar que me veio parar às mãos viesse amputado de dois contos, porque alguém, algures, na linha de produção, substituiu um caderno por outro: vieram repetidas as páginas 129-144 e das 113-128 nem sombra, desapareceram, levando consigo parte significativa dos contos O Caminho de Cherokee Pass e O Contrato. Enfim...
Em resumo, se tivesse de dar estrelinhas à cinema a este livro, daria 3 (em 5). É um bom livro do fantástico português, prejudicado pela falha na edição. É provável que a uma edição completa não tivesse grandes dúvidas em atribuir 4 estrelas.

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Colecção Aleph

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