R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Contos Fantásticos

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 12.09.2001

republicada em 26.07.2003

Eis um livro que provavelmente não irão encontrar nas livrarias. O título desinspirado que pode levar a confundir com outras edições também não ajuda. O conteúdo, esse, é muito variado, sob todos os aspectos.
Trata-se de uma edição de 1982, resultado do "I Concurso Fantasporto do Conto Fantástico". Inclui 18 textos, 3 premiados e 15 seleccionados para publicação, quase todos pertencentes à categoria "conto curto", de 12 autores (ou 14, se "expandirmos" um grupo de autores) diferentes.
Há alguns nomes conhecidos lá pelo meio. Começando pelo vencedor, o José Manuel Morais, activo no fandom português dos anos 80 e inícios de 90 embora nunca tenha chegado, que eu saiba, a editar nada sozinho - só organizou a colectânea "O Atlântico tem Duas Margens" (Caminho) e publicou umas coisas em antologias e revistas.
Também aparece o José Xavier Ezequiel, muito puto, com dois continhos fantásticos bem imaturos ainda, nenhum deles premiado. E aparece ainda o João Ventura com um conto seu, também entre os não-premiados.
Os contos são extremamente variados. Há-os de FC, fantásticos, surrealistas, de horror, etc., etc. A qualidade média é, para os padrões de hoje, ou para os padrões que se deveria ter hoje em dia, fraca. Mas...
... mas há que não esquecer que se estava em 1982. Nesse mesmo ano, o João Aniceto ganhava a primeira edição do Prémio Caminho com "Os Caminhos Nunca Acabam", livro que viria a ser publicado um ano mais tarde, e que seria assim como que uma espécie de acordar para a edição regular de FC assumidamente portuguesa. E no mesmo 1982 surge um grupo de 12 (ou 15) autores a escrever FC&F com uma qualidade que, se não é propriamente alta, é de qualquer modo suficiente para não destoar da impressão e encadernação, da sua edição em livro.
Parece-me que este livro marca mais uma oportunidade perdida. É que, com excepção do Morais, do Ventura e do Ezequiel, não conheço mais nada de nenhum dos autores e o próprio concurso não teve sequência. Mesmo os membros deste trio tiveram uma produção que, pelo menos até agora (e no caso do Morais, ao que parece, é para sempre) foi escassa e por isso mesmo não evoluiu o que poderia ter evoluído nestes quase 20 anos.
É que para evoluir é preciso escrever bastante e - mais - é preciso ir publicando pelo menos parte do que se escreve. Só assim, na interacção com público e editores, se consegue perceber bem o que resulta e o que não resulta. Só passando pela vergonha de ser confrontado anos mais tarde com as edições embaraçosas do início se entende que a crítica afinal às vezes tem razão (isto partindo do princípio de que não se passa a vida a fazer as mesmas coisas embaraçosas, claro). E até os grandes começam geralmente pela mediocridade - temos aqui um exemplo disto mesmo com um livro de um dos melhores autores de FC de sempre, (ver a crítica a Rota de Colisão), e quem ler o "romance da juventude de José Saramago" (Terra do Pecado) tem outro exemplo claro.
Deste grupo de pessoas poderia talvez ter saído algo de excelente no campo da FC&F se tivesse havido uma continuidade. Alguns ainda vão a tempo, mas já houve 20 anos que como que se "desperdiçaram".
Quanto aos contos do livro, não há ali maravilhas mas, atendendo à época que data irremediavelmente muitos dos contos mais "ciencio-ficcioneiros", até há coisas interessantes e que se lêem bem. Não são todas, talvez nem sejam a maioria, mas há.

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Contos Fantásticos

Fantasporto

1982

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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