R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

4 de Outubro

por Joaquim Coelho

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 10.11.2001

republicada em 26.07.2003

Ninguém o diria ao começar a ler esta novela, mas trata-se do mais cyberpunk de todos os textos portugueses de FC que li até hoje. Apesar de no primeiro capítulo mais parecer estar-se a iniciar a leitura de algo queirosiano ou camiliano, uma história qualquer escrita e passada no fim do século XIX ou início do XX, chegado ao segundo capítulo o leitor rapidamente percebe com surpresa que não é nada disso.
Joaquim Coelho constrói um Portugal distópico e consistente (se bem que improvável, há que dizê-lo), em que Lisboa está transformada numa megalópole inflada e inflacionada, de vários milhões de habitantes que têm três objectivos na vida: drogar-se com a miríade de drogas postas à sua disposição pelos gangs de traficantes que controlam as várias zonas da cidade, legalmente, visto que essas drogas são consideradas pelo governo (ou ausência dele) auxiliares de experimentação mística para as centenas de seitas e cultos de todos os feitios possíveis e imaginários que pululam na cidade, e eis o segundo objectivo dos Lisboetas, e o terceiro é assistir a um show permanente, uma novela da vida real anacrónica passada na zona da "Expo".
A "Expo", que ocupa bastante mais território do que a "nossa" Expo'98, é uma zona povoada por actores que vivem as suas vidas como se se estivesse na mudança do século XIX para o XX, e fazem-no 24 horas por dia, debaixo dos olhares atentos de milhares de câmaras espalhadas por toda a Expo.
Ou quase.
O resto do país, entretanto, é deserto salvo outras áreas urbanas de grande densidade no Litoral Norte e no Algarve, usado apenas como uma grande área de cultivo de droga. Mas isso pouca importância tem para a história.
É um mundo negro que nos é no geral bastante bem descrito. Joaquim Coelho é um nome a manter debaixo de olho, caso continue a escrever (esta novela foi publicada no ano passado na Alface Voadora e desde então nunca mais se ouviu falar dele), e caso passe a fazer revisões mais cuidadosas aos seus textos.
É que o que mais estraga 4 de Outubro, é a inexistência de uma revisão cuidadosa. Erros de ortografia, erros de pontuação e erros de português que seriam perfeitamente evitáveis aparecem com demasiada frequência para não se tornarem irritantes e causadores de uma diminuição sensível do prazer da leitura. E isto era muito fácil de resolver. Bastava reler a história com olhos de ler. Mais difícil seria solucionar alguns problemas que existem a nível da estrutura da história, mas que no entanto são muito mais raros que os outros. Mas seria óptimo que fossem todos eles solucionados. É que a história (e principalmente o seu enquadramento) não os merece.
Tudo somado, eu atribuiria, à filme, 3 bolas a esta edição electrónica que fica, como se vê, acima de muita coisa que se edita em livro por aí...

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4 de Outubro

por Joaquim Coelho

Alface Voadora

2000

Leia a história online

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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