R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Um ano de E-nigma - coisas boas e coisas menos boas

por Jorge Candeias

artigo publicado em 26.10.2002

republicado em 22.07.2003

E eis que se passou um ano. E, como em todas as coisas, também aqui no E-nigma os fins são o tempo certo para balanços. É, pois, o tempo certo para olharmos para o que nos propusemos fazer em Setembro de 2001, para aquilo que tínhamos feito no fim de Agosto de 2002, e tirarmos algumas conclusões.
O Manifesto baliza, de um modo geral, o nosso caminho. Propunhamo-nos nele a ser uma pedrada no charco estagnado da FC portuguesa, a disponibilizar ficção científica e fantástico com qualidade a preço nulo como forma de captar novos leitores, remotivar leitores e autores desiludidos e abanar preconceitos estabelecidos. Propunhamo-nos também a descobrir novos talentos e a reeditar alguns dos primeiros trabalhos de autores consagrados.
Julgo que posso dizer que fomos mesmo uma pedrada no charco, sem correr o risco de cair no ridículo auto-elogioso tão comum em quem não tem sentido de autocrítica. A FC em Portugal, e especialmente a edição de FC na internet, mudou no último ano. Julgamos ter tido aí um papel. Esse sentimento é-nos confirmado pelas reacções que temos tido, por conseguirmos, em quatro meses de existência (de Setembro a Dezembro de 2001), colocar mais textos de ficção entre os nomeados ao Argos do que qualquer outra publicação (ex-aequo com o Megalon), por termos um finalista no mesmo prémio, por termos um número de visitantes sempre crescente e um número de visitantes repetidos (aqueles que fazem mais do que uma visita ao site) a aproximar-se dos 400. Fomos pioneiros em Portugal na edição de antologias temáticas em e-book, algo que não estava previsto inicialmente mas que logo se impôs como uma necessidade. Tivemos honras televisivas no Magazine 2010, da RTP2. Vários sites, dentro e fora dos grupos mais ligados à FC, deram-nos uma ou outra forma de destaque. E recebemos mais de 100 contos para avaliar.
Quanto à pedrada no charco, o sucesso é evidente. Quanto à qualidade do que publicamos, ela é atestada pelos vários destaques que temos recebido. Aqui está tudo bem, e só temos motivos de satisfação. Mas há dúvidas no que toca a outros objectivos, e há objectivos que ficaram aquém do que desejámos.
Não sabemos, por exemplo, até que ponto conseguimos captar novos leitores para o género e até que ponto fomos bem sucedidos em abalar preconceitos. Não temos fontes de informação, não temos como saber se, de todos os milhares de visitantes que recebemos, algum passou a olhar com outros olhos para a FC&F por nossa causa. Nem sabemos se remotivámos leitores desiludidos com o género, embora tenhamos algumas indicações que sugerem que sim.
Sabemos, por outro lado, que remotivámos alguns autores que talvez não estivessem desiludidos, mas estavam certamente parados, ou quase, com especial destaque para o João Barreiros. Mas não só. Entre os já publicados no E-nigma, João Ventura é outro nome que voltou a encarar a escrita com olhos mais benignos, em parte por nossa causa. E entre os ainda não publicados (mas já aceites) temos mais nomes assim. Mas achamos pouco. Queríamos mais. Queríamos ver um fluxo maior de submissões de outros autores que pouco ou nada têm produzido nos últimos tempos.
Também ficámos aquém do objectivo de dar a conhecer novos nomes. O facto de termos introduzido em Portugal nomes como Gabriel Bozano, Keith Brooke e vários autores de não-ficção, de termos dado pela primeira vez uma visibilidade razoável por cá a Maria Helena Bandeira não nos chega. Também aqui queríamos mais. Em termos de novidade absoluta, encontrámos apenas uma, ainda que José Afonso Neto tenha todas as condições para se vir a tornar, a curto prazo, num valor seguro da nossa FC. Queríamos mais.
Tal como queríamos mais antigos trabalhos dos nossos melhores autores. Os contos iniciais que Luís Filipe Silva enviou para o DN Jovem, os textos constantes da edição de autor com que João Barreiros se estreou em livro. Etc.
Outra coisa que falhou, e esta redondamente, foi a tecnologia. Entre Maio e Setembro fomos afectados por um fluxo constante de problemas técnicos de todos os tipos, que levaram a longas paragens nas actualizações, a mudar o site de servidor (com todos os problemas que isso causa) e de endereço, e à substituição do computador que centraliza o trabalho. Esperamos com toda a força não vir a ter mais problemas deste tipo! Até porque não há paciência e bolsa que aguentem!...
Agora, novo ano nos espera. E gostaríamos de continuar o caminho em que temos sido bem-sucedidos e de melhorar aquilo em que não nos temos saído tão bem como seria desejável. Para isso contamos, e muito, com vocês: autores, leitores, simples visitantes. Porque se este site é feito para vocês, é também, em boa medida, feito por vocês.

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Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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