R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Koko

por Peter Straub

uma crítica de Marcello Simão Branco

publicada em 08.10.2001

republicada em 10.10.2003

Minha última leitura foi o romance massivo Koko, de Peter Straub. Um livro absolutamente poderoso em seu enredo, seus personagens, seu suspense, suas surpresas. Quatro antigos soldados americanos da Guerra do Vietnã planejam voltar ao Sudeste Asiático para encontrar um quinto, que eles supõem tenha enlouquecido e seja o responsável por uma série de assassinatos. Este é o ponto de partida no qual todo um painel social sobre o desajuste da volta à América depois da guerra ganhe um contorno muito bem trabalhado do ponto de vista psicológico por Straub.
O livro tem cenas e imagens poderosas, como a que descreve em detalhes o submundo das drogas e prostituição em Bangcoc. Ou ainda como o psicopata Koko mata suas vítimas. É de um realismo de enjoar o estômago. Outro mérito de Straub é conduzir e iludir com maestria os personagens e o leitor fazendo-os acreditar num certo personagem como o assassino, para depois surpreender a todos com a constatação de que o serial killer é outro. Aliás, isso ocorre por duas vezes no desenrolar da história.
Straub trabalha também com recursos de metalinguagem, na figura de um dos personagens que também é um escritor de livros de suspense e chega, ao requinte, de intercalar as obras do próprio personagem para dialogar com a história de Koko propriamente dita.
O texto fluente, o tratamento denso e complexo dos personagens, a inserção da narrativa em contato com os aspectos culturais da América contemporânea, ecoam uma lembrança inevitável com Stephen King. Mas Straub tem uma voz própria, ao menos neste romance, apresentando personagens bastante dilacerados e desestruturados do ponto de vista social e humano, além de exibir um conhecimento bastante apurado dos meandros e do cotidiano de um agrupamento americano nos excessos e horrores vividos no ambiente de batalha (chega a descrever uma batalha com detalhes de realismo impressionantes).
Apesar de suas 454 páginas distribuídas em um tipo de letra mais pequeno que o habitual nos livros da editora Francisco Alves, a leitura é fluente, instigante e só tenho a lamentar uma coisa: que o livro e a convivência com a história e os personagens tenha acabado.

Gostou deste texto? Ajude-nos a oferecer-lhe mais!

 

Koko

por Peter Straub

Francisco Alves (Brasil)

Colecção Mestres do Horror e da Fantasia

tradução de Ruy Jungmann

1992

Críticas a outras obras de Peter Straub

A Casa Negra

Mr. X

O Talismã

Artigos de Marcello Simão Branco

Críticas de Marcello Simão Branco