Guerra Lunar
por Ben Bova
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 10.09.2001
republicada em 09.07.2003
Este livro é um calhamaçote, com 423 páginas que podiam resultar num volume bastante mais fino se o papel não fosse tão grosso. Conta a história da independência de Moonbase, uma colónia na Lua mantida graças à nanotecnologia, numa terra dominada por uma ONU sob as ordens dos fanáticos anti-nanotecnologia e de um sr. Faure, quebecano de tendências ditatoriais. É além disso uma sequela, prosseguindo a história que se iniciou em Alvorada Lunar.
É uma sequela bem feita porque permite a leitura sem problemas a quem não leu o primeiro livro (o meu caso). Não há nem perda de informação nem perda de interesse. No entanto, é aconselhável ler os livros em sequência por uma outra razão: Guerra Lunar contém informações sobre o desfecho do primeiro livro, os famigerados spoilers.
Por outro lado ainda, este livro é tão americano que quase antes de começar a lê-lo já sabemos como vai acabar, resumindo-se o interesse às peripécias que acontecerão no trajecto. Além de americano, é americano de direita e está cheio dos temas que são tão caros aos americanos de direita: a identificação da ONU com o Mal, o predomínio da tecnologia sobre tudo o mais, a apresentação dos ecologistas como um bando de fanáticos irrealistas e, neste caso, assassinos e, claro, a identificação quase automática dos EUA com a Terra, se bem que nesta história apareçam mais dois países: Kiribati, que funciona como uma plataforma off-shore para os negócios da Masterson (uma empresa americana, claro), e o Japão, sede da rival da Masterson, a Yamagata.
Tudo bastante previsível e bastante aborrecido, sem nada de particularmente novo. Há os heróis obcecados do costume, os vilões malvados do costume, os traidores do costume, os inimigos simpáticos do costume. Tudo contado já centenas de vezes, sob centenas de formas diferentes na embalagem mas iguais no produto.
A tradução escapa-se por um fio. Se é verdade que há uma série de pormenores fracos (nomeadamente a nível de pontuação - horrível) e/ou em que dá para ver o inglês que está por baixo («"blablablabla", Fulano sabia» é construção que nunca tinha visto na língua portuguesa), também é verdade que na maior parte do texto a tradutora não se espalha por aí além. Podia ter sido bem pior.
Feitas as contas aos prós e aos contras, parece-me que em bolinhas cinematográficas este livro não passaria de duas.
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