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Disney no Céu Entre os Dumbos
por
João Barreiros

    Barreiros. Que mais há a dizer? Só, talvez, que esta novela foi escrita antes do Terrarium e dos contos do Caçador de Brinquedos, e que permanece inédita desde então. À espera, só à espera, de encontrar quem queira saber de onde vieram aquelas ideias... e divertir-se com a descoberta.

O Autor fala sobre a obra

    Descobri recentemente entre os estratos geológicos da minha papelada, uma novela escrita em 1984 para a já extinta Editora Rolin, e para a colecção de literatura fantástica, então dirigida pelo António Júlio Valarinho. Por detrás deste Valarinho, estava a tal Rolin, uma vastíssima sehnora e o comuna Mário de Carvalho. Como o Valarinho conhecia a Luisa Costa Gomes e como publicou uma noveleta dela, perguntou-lhe se conhecia mais gente a escrever literatura fantástica e ela citou o meu nome. Chagou-me o Valarinho que eu escrevesse qualquer coisinha. E eu escrevi. Um mini romance ribofunk (lembrem-se, estávamos ainda no início dos anos 80) chamado Disney no Céu Entre os Dumbos. Deu-me um trabalho doido. Fui radical até dizer basta. Mas devia ter desconfiado. Uma colecção de literatura fantástica com o Mário de Carvalho por detrás ? O tipo detestava FC. Visceralmente.
    Bom, terminado o conto, a treta do costume. Era muito complicado e ninguém percebia nada. Tinha muitos neologismos e que eu devia botar um dicionário explicativo no final do texto. Depois não gostavam do título. Pouco estético, pouco intimista, pouco relacionado com o universo português. Não o percebia, de todo. Expliquei-lhe que a resposta vinha no conto. Além disso era uma homenagem à canção dos Beatles, Lucy in the Sky With Diamonds. Aaaah, não tinha compreendido a relação. E se ele não compreendeu, então o leitor normal também não vai compreender...
    Depois mostrou a novela ao Mário de Carvalho e mais alguns contos meus que depois apareceram no Caçador de Brinquedos e Outras Histórias... A resposta foi que não o publicava... porque... bom, eu não tinha estilo. Pronto. Está tudo explicado. Quando o Mário de Carvalho diz uma coisa assim, vê-se o que ele pensa do argumento, da história de tudo o resto... O que importava era ter "estilo" e nada mais... E é estranho... Se há coisas que dizem de mim, é que o meu "estilo" é inconfundível... Entretanto dei-me ao trabalho de ler outros contos da mesma colecção. Num tal pós-apocalipse nuclear, um jovem efebo pôe sereias em terra e chama aos machos delas "sereios". Disse ao Valarinho que aquilo era perfeitamente idiota... coisa de patetas... "sereios"?? Então não se chamam assim, disse ele perplexo. Nope, respondi. O marido da sereia é o tritão, porra, e os tritões vivem debaixo de água. Quando ao conto da Luisa Costa Gomes, sobre a hierarquia dos anjos é quase ilisível no estilo. E assim por diante. Consulta a colecção... O Macedo anda a imitar-lhe o estilo.
    Bom, contas feitas, fiquei de rastos. Lá estava eu perante o meu primeiro rejection slip. Pouco faltou para que eu não escrevesse mais... Se não fosse o jornal Combate e a antologia da Caminho...
    Continuo a achar o conto interessante. Carraças alienígenas que bebem memórias... e que guardam adegas de humanos na cintura dos asteróides. O conto só tem duas personagens. Uma carraça chamada Suzana e a sua vítima progressivamente desmemoriada chamada Marklin. E uma relação de posse, que repugnou o Valarinho, quase violação física entre a carraça e o humano. De qualquer modo acho curioso examinar o "casamento" entre aquilo que eu fui e aquilo que ora sou.
    Bom, e é mais um mini romance a la João Barreiros.
    Sem estilo nenhum, claro.

João Barreiros

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