Vivos: 20%
por John Wyndham
uma crítica de Marcello Simão Branco
publicada em 18.06.2002
republicada em 25.10.2003
Terminei de ler o livro Vivos: 20% (The Kraken Wakes), escrito pelo John Wyndhan, e publicado em 1951 na Inglaterra. A edição é o número 121 da coleção portuguesa Argonauta.
Estranhos fenômenos começam a ocorrer nos oceanos, com o desaparecimento de navios de vários tamanhos, sejam civis ou militares. A seguir percebe-se que a área dos desaparecimentos é em torno das fossas marítimas, acima de 4 km de profundidade.
O romance é narrado do ponto de vista de um casal de jornalistas que trabalham para uma rede de TV britânica. Não é a BBC, mas uma concorrente chamada English Broadcasting Corporation (EBC). Assim, os acontecimentos são contados como se fossem uma reportagem investigativa, com os jornalistas entrevistando cientistas, políticos e militares e informando o que a imprensa de outras partes do mundo tem noticiado sobre os desaparecimentos.
Os jornalistas vão a campo em expedições marítimas conferir os estranhos acontecimentos, por exemplo, quando algumas ilhas passam a ser atacadas por estranhos bólidos metálicos semelhantes a besouros. Deles saem seres tentaculares que capturam os humanos e os levam para o fundo do mar.
Wyndhan conta a história com muita fluência, diálogos interessantes e uma verve irônica que vai desde as particularidades de um casal de jornalistas até as incoerências dos cientistas e governantes em seus atos para desvendar o mistério.
Mas a história tem problemas, pois os desaparecimentos marítimos e as invasões dos 'batas' (como são chamados os besouros metálicos) vão se acentuando e tudo o que acontece é uma passividade e incompetência inverossímil por parte dos países. Os governos e seus militares só protelam, se reúnem, discursam, pedem calma ao povo e a situação vai piorando cada vez mais.
O texto também é permeado pela lógica da Guerra Fria - datando o romance - com americanos e soviéticos não se unindo, um acusando o outro de serem os responsáveis ocultos pelas tragédias marítimas.
No último terço os invasores do mar derretem o Ártico e parte da Antártica, causando uma catástrofe, com o nível do mar subindo em torno de 50 metros por todo o mundo, colapsando a civilização.
Mas no fim, descobre-se um meio de matar os tais invasores e renasce uma esperança de reconstrução do mundo. Um mundo que só será partilhado pelos 20% restantes, daí o título idiota em português, que entrega uma informação. Além disso a capa também é estraga-prazeres, pois mostra como seriam os alienígenas. Mas só vai se ter certeza dos aliens lá pela metade do texto... (Outra dificuldade do livro é a tradução, que é muito ruim e trava o texto em n passagens.)
O romance lembra um pouco O Dia das Trífides, o romance mais famoso de Wyndham. Só que neste a invasão espacial não vai para o fundo do mar, mas ataca diretamente na superfície mesmo.
Um livro que parte de premissas interessantes, tem uma boa fluência, adota uma perspctiva narrativa interessante, mas tem argumentos muito frouxos e mal desenvovidos, comprometendo o conjunto da obra.
Regular **
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