R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

A Seta do Tempo

por Martin Amis

uma crítica de Alexandre Beluco

publicada em 30.04.2002

republicada em 25.06.2003

A seta do tempo, de Martin Amis, tem como mote um famoso parágrafo de Kurt Vonnegut (em Matadouro Cinco), em que um bombardeio aéreo é visto ao contrário, com os bombardeiros abrindo seus compartimentos, recolhendo bombas que sobem do solo e em seguida retornando para casa.
A seta do tempo é a história de Odilo Unverboren contada de trás para frente. Um médico alemão, que teve envolvimento com os nazistas, que depois refugiou-se na América, onde mudou de nome (para Tod Friendly) e passou a ter uma rotina tipicamente americana, mas atormentada pelo seu passado. É como se um homem, arrependido de seus atos, os revivesse e compreendesse melhor a si mesmo, amadurecendo suas dificuldades e suas limitações e ao final encontrando um novo modo de vida, reencontrando paz interior e aprendendo a viver com esperança e com amor.
Comparando com o parágrafo de Vonnegut, é como se o homem mau desfizesse suas maldades e voltasse a viver como um homem bom. Como se ele trouxesse suas vítimas de volta à vida, como se as pessoas por ele magoadas esquecessem as mágoas e como se em seu interior o mal cedesse lugar à ingenuidade e à bondade.
A estória proporciona reflexões bastante atuais sobre culpa, sobre moral e sobre ética, e o subtítulo a natureza do delito, extraído de um texto de Primo Levi, mostra o ambiente fecundo para essas reflexões que foi adotado pelo autor, já que a personagem foi médico nazista e participou das atrocidades cruéis e covardes já exaustivamente descritas nas últimas décadas.
O livro em si não constitui uma obra de ficção científica, no sentido de trazer uma narrativa com elementos científicos. É verdade que a personagem inicia uma viagem no tempo em direção ao seu passado, sem caminho de volta. Mas, na medida em que não existe algo como uma máquina do tempo, a estória contada por Amis soa melhor como um exemplar de literatura fantástica.

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A Seta do Tempo

por Martin Amis

Rocco (Brasil)

tradução de Roberto Grey

1996

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