O Regresso de D. Sebastião
por Maria Moura-Botto
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 13.09.2001
republicada em 08.07.2003
Esta é uma história-quase-alternativa que fala sobre o regresso de D. Sebastião. Ou, melhor dizendo, sobre a vida do famigerado rei português depois de ter sobrevivido à batalha de Alcácer-Quibir.
Quase metade do romance é gasto a caracterizar a época e o D. Sebastião de antes da batalha: um idiota chapado com sede de batalhas e de glória, obcecado em igualar os feitos dos antepassados, sem olhar a consequências nem a conselhos. Pelo (pouco) que sei da história real, parece que o original do personagem era mesmo qualquer coisa de muito próximo disto.
Depois da batalha, o sobrevivente mas muito ferido D. Sebastião muda quase por completo. Resumindo, fica com um grande trauma depois de ver as centenas de mortes que causou sem necessidade e resolve partir mundo fora numa peregrinação para expiar os seus pecados em vez de voltar ao trono. O resto da história conta, episodicamente, as deambulações do ex-rei por aqui e por ali, e depois a sua viagem de regresso a Portugal.
A ideia não está má. A ambientação do romance, salvo alguns pormenores que me pareceram incongruentes ou anacrónicos, também não está má, a caracterização do rei, a espaços, também não está má, a construção da história também não está inteiramente má...
O que está péssimo, por estranho que pareça, é o português. E não são só falhas de revisão (que as há em grande número), são falhas bem mais profundas na construção das frases, ou na concordância dos tempos verbais. Há frases que não têm fim, há frases que não têm sentido, há frases sem pés nem cabeça. Há pontuação desajustada. E não é aqui e ali, é por todo o livro. Abrindo-o ao calhas e olhando para um parágrafo curto também ao calhas, apareceu-me logo um exemplo. Reparem:
Magdala havia sido arrastada pela sua fiel serva Helena até junto ao palácio, quando o ex-soberano a encontrou. Jacob Lévi que o acompanhava, bem cedo se deu conta dos ferimentos.
Isto é mau!
Não é português que se apresente. Não vale o preço que se pede pelo livro (dois contos e tal). Parece uma tradução do Eurico da Fonseca.
Ou seja, ou há aqui um caso de amizades e favores, ou publicar um livro em Portugal é bem mais fácil do que eu pensava. Nem sequer é preciso saber escrever em português...
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