R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

A Filha do Predador

por Daniel Alvarez

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 08.09.2006

Até muito longe, no futuro, num planeta chamado Ahapooka que uma raça misteriosa reservou para jardim zoológico das espécies inteligentes da Galáxia, ou pelo menos daquelas suficientemente inteligentes para viagens interestelares mas não para conseguirem ultrapassar uma ordem hipnótica que as leva a despenhar as suas naves nos desertos de Ahapooka, a relação entre um pai e uma filha adolescente continuam tão delicadas, confusas e contraditórias como em plena Terra, século XX. É que retirado todo o cenário de A Filha do Predador, todo o exotismo dos alienígenas e tecnologias que encontramos nesta noveleta de FC dura, o que fica é uma história em que uma filha negligenciada por um pai misterioso mas admirado e uma mãe ausente vai descobrindo os detalhes mais extraordinários acerca do passado dos pais.
Para além dessa natureza subjacente desta noveleta, trata-se de uma história bem construída mas não muito elaborada, como é, claro, inevitável num texto tão curto. Contada na primeira pessoa por Clara, a filha do predador, a história inicia-se com a notícia de que a mãe se foi embora, abandonando pai e filha em troca de uma oportunidade na nação mais poderosa do planeta. O pai, que ganha a vida recuperando o que lhe for possível das carcaças das naves que se despenham regularmente no planeta, um trabalho aventuroso, duro e perigoso no qual ele é o único ser humano a ter sucesso, vê-se obrigado a levar a filha consigo na expedição seguinte e é ao longo das peripécias que se sucedem nessa expedição que Clara vai descobrindo os detalhes mais incríveis sobre a identidade e o passado dos pais e também sobre o que significa ser um predador de Ahapooka.
O pior que esta noveleta tem é fecharmos o livro com a sensação de que ele pouco passa de um prólogo ou primeiro capítulo para uma obra maior, um romance propriamente dito desenrolado naquele universo e com aquelas personagens. Não parece haver uma conclusão propriamente dita. O livro termina, em vez disso, com uma espécie de "não perca as cenas dos próximos capítulos". A última frase deste pequeno livro é mesmo "[temos] muito trabalho pela frente"! Final em aberto? Com certeza. Mas é mais do que isso. Há finais em aberto que, apesar de o serem, deixam no leitor a sensação de que o livro está completo. Aqui, pelo contrário, e também talvez porque a história é bastante curta, acaba-se de ler e fica-se com uma sensação de incompletude, de que falta qualquer coisa.
Mas para além desse pormenor, trata-se de uma boa noveleta. O cenário é fascinante e cheio de potencial, e Alvarez foi capaz de dar espessura às personagens principais (especialmente ao predador propriamente dito), apesar da brevidade do texto e de ter sido também obrigado a introduzir nessas breves páginas um enredo e uma caracterização do cenário que, não podendo ser exaustiva é, ainda assim, suficiente para despertar o interesse.
★★★★

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A Filha do Predador

por Daniel Alvarez

Writers (Brasil)

1999

Se os Olhos Pudessem Matar...

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

Desconhece-se o Paradeiro de José Saramago

O Telepata Experiente no Reino do Impensável

Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

O Caso Subuel Mantil

No Vento Frio de Tharsis

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