R e v i s t a . e l e c t r ó n i c a . d e . f i c ç ã o . c i e n t í f i c a . e . f a n t á s t i c o

Aliens — O Recontro Final

por Alan Dean Foster

uma crítica de Jorge Candeias

publicada em 22.10.2006

Há dois tipos de edições oportunistas ligadas ao cinema: a edição ou reedição de obras que geraram filmes por ocasião da estreia desses filmes, frequentemente aproveitando para capa imagens da adaptação, e a edição (e neste caso também escrita) de novelizações dos argumentos dos filmes. É triste que tantas editoras se dediquem com tanta frequência a este tipo de edições, mas se não houvesse mercado para elas as editoras não as fariam. E os escritores, se estes livros não lhes pagassem a comida que levam à mesa da família, certamente prefeririam desenvolver ideias próprias a estar a perder tempo a passar a romance ideias alheias, originalmente desenvolvidas sob a forma de argumento.
Em geral, as novelizações geram obras que não só são derivativas, mas são também muito más, ainda que certos escritores sejam capazes, por vezes, de espremer livros razoáveis de alguns argumentos. Depende, claro está, da qualidade do escritor, mas também depende, e muito, da qualidade do argumento que lhes serve de base.
Alan Dean Foster é, talvez, dos escritores de FC que se dedicam a fazer novelizações, aquele que as faz melhor. E quando o material que tem para trabalhar tem a qualidade do guião de um qualquer dos dois primeiros filmes da série Aliens, é natural que o resultado seja muito acima da média deste tipo de livro.
Com efeito, Aliens — O Recontro Final, escrito por Alan Dean Foster com base num argumento de James Cameron, é uma novelização muito boa. A história tem ritmo, tem uma sequência que funciona no papel, é ágil e consegue transmitir a emoção possível num produto que não deverá ser frequente que seja lido antes de o leitor assistir ao filme que é, evidentemente, muito melhor do que a novelização. Aliens — O Recontro Final é fiel ao filme que lhe deu origem. Inevitavelmente, há cenas icónicas do filme que têm muito menor impacto no livro, e neste é dada maior importância a acontecimentos que no filme passam mais despercebidos. É o que sempre acontece numa adaptação. Mas esta adaptação é, ainda assim, muito fiel ao original, de tal modo que é impossível lê-la sem que as imagens do filme sejam chamadas à memória.
Só que uma novelização muito boa tem uma qualidade equivalente a um romance original mediano. Este não é, nem poderia ser, um bom livro. É apenas um livro simpático que re-conta uma história já conhecida por todos. Um livro sem surpresa nem rasgo, mas competente e razoavelmente bem escrito, o que, para o que é hábito nas novelizações, não é nada de deitar fora.
Pior, muito pior, é a atitude que a Europa-América teve com esta edição. É que se se compreende que se editem livros com base em filmes, porque há um mercado para eles, se se compreende que se façam edições coladas às estreias cinematográficas por motivos de marketing, já dividir em dois volumes um romance que tem pouco mais do que duzentas páginas se aproxima perigosamente de uma atitude de imperdoável desrespeito pelo leitor. Lançar dois livros de pouco mais de 100 páginas com esta obra, ainda por cima escolhendo cuidadosamente o sítio onde se coloca a informação de que o 2º volume é um 2º volume para fazer o facto passar despercebido até ser tarde demais, destrói, pura e simplesmente, quaisquer qualidades que ela pudesse ter.
Felizmente, os leitores deram a resposta adequada e esta edição foi muito difícil de vender. Vi um ou os dois volumes, durante muitos anos, incluídos nas ofertas dos catálogos de venda postal da Europa-América. Porque, de facto, se uma edição diferente deste livro talvez merecesse algo como duas ou três estrelas, assim não é possível dar-lhe outra coisa que não seja bola preta.

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(I vol.)

(II vol.)

Aliens — O Recontro Final

por Alan Dean Foster

Publicações Europa-América

Colecção Livros de Bolso Europa-América, série Ficção Científica, nos. 124 e 125

tradução de Maria Helena Morais

1991

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Krull

Jorge Candeias escreveu:

 

Sally

Edições Colibri

2002

(leia a crítica de Octávio Aragão)

 

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Jorge Candeias organizou:

O Planeta das Traseiras

e escreveu a introdução e os contos:

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